sábado, 1 de janeiro de 2011

O que se vai passar na economia americana em 2011

Robert Reich

(Enviado por Júlio Marques Mota)


Um texto importante - Robert Reich, ex-ministro do Trabalho na Administração Clinton escreve sobre a América. A ler com atenção e com atenção descobre-se que escreve também sobre o que está para além da América.
E sobre a América cada vez mais dividida entre a América dos ricos e a América dos pobres, deixa-nos uma sugestão, uma sugestão a pensar numa regime democrático. Diz-nos Reich: «Haverá, certamente, um momento em que a diferença entre as duas economias será tão grande e tão evidente que ninguém mais a poderá ignorar. Progressistas, gentes esclarecidas do Tea Party, Independentes, organizações de trabalhadores, minorias e os jovens formarão um novo movimento progressista com a missão de voltar a unir a América.» E é tudo. Parece pouco mas é muito. Júlio Mota






O que é que se vai passar na economia americana em 2011? Se nos estamos a referir aos benefícios das grandes empresas e a Wall Street, o próximo ano será provavelmente um bom ano. Mas se falamos da média dos trabalhadores americanos, estamos muito longe de pensar que será um bom ano .


As duas economias da América - a da Grande Finança e a da economia da família média de trabalhadores - vão continuar a divergir. Os lucros das empresas vão continuar a aumentar, como o dos mercados bolsistas. Mas os salários típicos não irão em nenhum lado aumentar , o desemprego continuará a ser elevado, as longas filas dos desempregados vai continuar a aumentar, a retoma do alojamento permanecerá no ponto morto e a confiança dos consumidores continuará em baixa.


A separação entre os lucros das empresas e o emprego deverá continuar até porque as grandes empresas americanas dependem cada vez menos das vendas que efectuam nos Estados Unidos e dos trabalhadores dos Estados Unidos. Os seus enormes lucros vêm de duas fontes: (1) do crescimento das vendas na China, na Índia e noutros países de crescimento rápido, e (2) da redução da massa salarial nos Estados Unidos.


Numa retoma clássica , o aumento dos lucros conduz a uma maior contratação. E é assim porque numa retoma clássica, os consumidores americanos retornam aos centros comerciais - e as suas compras justificam mais contratação. Não é assim, desta vez. Todo o discurso mediático sobre as vendas de Natal nas últimas semanas mascaram o facto de que os consumidores americanos procuravam os produtos a preços de saldo . E a baixa dos preços reduziu consideravelmente as margens dos vendedores. Resumidamente, os lucros não têm como origem os consumidores americanos - e os lucros também não virão dos consumidores americanos em 2011.


A maior parte dos Americanos não tem dinheiro. Estão ainda profundamente endividados, não podem contrair empréstimos com hipotecas sobre as suas casas, e devem começar a poupar para a reforma.


O Índice da indústria Dow- Jones tem estado a aumentar devido às vendas para o estrangeiro. A General Motors está a fazer mais automóveis na China do que nos Estados Unidos, e os dois terços do total das suas vendas são para o estrangeiro . Quando esta realidade se tornou pública no mês passado fizeram-se rasgados elogios ao facto de que perto da metade dos seus automóveis serão feitos à volta do mundo e em zonas onde a remuneração do trabalho é inferior à 15 $ por hora.


Walmart não faz bem particularmente à América, mas Wal-Mart Internacional está em franco desenvolvimento. E Walmart contrata como loucos mas fora dos Estados Unidos.


General Electric está a reduzir a sua folha de salários nos Estados Unidos, mas prevê investir 500 milhões de dólares no Brasil e pretende contratar 1.000 Brasileiros, e investir 2 mil milhões de dólares na China.


A América das grandes empresas ( a Corporate América) encontra-se face a uma retoma em forma de V. Isto representa boas notícias para os investidores e para todos aqueles cujas poupanças estão aplicadas principalmente em acções e obrigações. Isto também representa boas notícias para os altos quadros e para os traders de Wall Street, cujas remunerações estão ligadas às cotações das acções. Todos esperam fazer de 2011 a sua bandeira.


Mas a maior parte dos trabalhadores americanos é apanhada na armadilha de uma retoma na forma de L. Que más notícias para a Main Street, para a gente da rua, para a população que vive de modestos rendimentos e para as pequenas empresas em 2011. É também mau presságio relativamente aos preços das casas e para o volume de vendas, e para todos aqueles em que tudo o que têm está principalmente nos seus lares.


Os preços das casas nas principais zonas metropolitanas caíram durante o mês passado, a terceira baixa consecutiva mensal. Eu penso que os preços das casas continuam a cair no próximo ano. Estamos num mercado do alojamento que assume a forma de W , em grande parte porque o desemprego continua a ser tão mau que milhões de americanos não podem pagar a sua hipoteca .


Nada disto é de bom augúrio para o emprego dos Estados Unidos no ano próximo. Penso que a taxa de desemprego oficial manter-se-á em cerca de 9 por cento.


Por outras palavras, se 2011 é um grande ano isso vai depender, em termos económicos, de se saber em que economia é que se está - se naquela em que os lucros continuam fortemente a crescer, na das grandes empresas e de Wall Street, ou se está naquela em que se vai continuar a lutar com pouco empregos e salários miseráveis.


Infelizmente, com o próximo Congresso é pouco provável que se venha a fazer muito para inverter tudo isto. A maior parte dos republicanos e também muitos democratas são tributários da América das grandes empresas e de Wall Street. A sua versão da reforma fiscal é a de reduzir os impostos sobre os mais ricos e sobre as grandes sociedades, e então fazer subir outros impostos (as taxas de IVA e sobre os bens imobiliários estão já a subir) ou reduzir as despesas sobre os programas destinados a apoiar as famílias de trabalhadores economicamente dependentes.
Haverá, certamente, um momento em que a diferença entre as duas economias será tão grande e tão evidente que ninguém mais a poderá ignorar. Progressistas, gentes esclarecidas do Tea Party, Independentes, organizações de trabalhadores, minorias e os jovens formarão um novo movimento progressista com a missão de voltar a unir a América.




Robert Reich, New Year's Prediction, 29 de Dezembro de 2010
Disponível em http://robertreich.org/
Robert Reich, Fmr. Secretary of Labor; Professor at Berkeley; Author, Aftershock: 'The Next Economy and America's Future'

4 comentários:

  1. "...formarão um novo movimento para voltar a unir a América..." e na Europa não é diferente.O fosso será tão grande e haverá tanta gente sem nada a perder que a revolta será inevitável.Texto muito importante!

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  2. Texto muito bom.

    Não sabia que nos EUA existia essa diferença tão grande entre ricos e pobres.Pensava que esse mal fosse coisa apenas daqui da américa do sul.

    bjs

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  3. Obrigado, Meu mundo da lua. Volte sempre!
    Bjs

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  4. PIOR Q SIM E MMUITO GRANDE

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