terça-feira, 11 de maio de 2010

Ali, além, acolá...

Fernando Correia da Silva

Ali, além, acolá,
só dinheiro é que não há.
Será tamanha a fartura
que ninguém jamais procura
ser dono de coisa alguma.
Por isso não se costuma
usar tranca ou cadeado,
apelar a magistrado,
condenar sem compaixão,
meter homem na prisão,
empurrá-lo para a guerra.
Onde fica essa terra?
Onde fica ou ficará?
Ali, além, acolá...

É povo, por natureza,
inclinado à gentileza.
Todos são donos de tudo
porque todos fazem tudo
para todos. Mais distingo
ser ali sempre domingo.
É festa continuada,
irmandade partilhada
entre homens e mulheres,
bem-te-quero, bem-me-queres,
sejam quais as gerações.
Desigual doutras nações
onde fica ou ficará?
Ali, além, acolá...

Arribado me quisera
ao país da Primavera.
Com a minha confraria
hei-de ali surdir um dia
sem daqui arredar pé.
Trocar eu quero o que é.
Porém ânsia desmedida
troca-me as voltas da vida
e comigo me deparo
solitário ao desamparo
a pregar neste deserto.
O azul é tão incerto...
Onde fica ou ficará?
Ali, além, acolá...

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