quinta-feira, 27 de maio de 2010

Às seis da manhã

Ethel Feldman


Às seis da manhã
quando a brisa é fresca abro a janela
para que meu corpo quente se aquiete

quero escrever sobre o vento
que de mansinho invade meu quarto.
depois desisto.

A sensação deste ar que se espalha
entre meu ombro direito e a anca esquerda
mal daria para um verso de 17 sílabas.

Quando conseguisse expirar um ai
já não seria seis da manhã.

Se eu soubesse suspender o momento
desenhava a curva e seus pontos de fuga,
tacteava a superfície generosa e lisa
desse presente que se escapa.

Se eu soubesse suspender esse tempo
meu texto não seria mais que um sopro
dessa brisa que me acorda todos os dias
as seis da manhã.

Nesse sopro eu escreveria a eternidade.

3 comentários:

  1. Só a poetisa "guarda" as seis da manhã...

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  2. Um grande bem haja ao "galo" que a acorda às 6 horas.

    Graças a ele podemos sentir, com a sua sensibilidade tão bem expressa no poema, a brisa fresca do despertar do dia.

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  3. Nunca estive perto de alguém com o nome igual ao meu. Em criança, na escola esperava ansiosa que aparecesse uma menina que levantasse o braço e dissesse: - Meu nome é Ethel!
    Depois em adulta comecei a gostar sentir-me ilusoriamente 'única', até o dia em que entrei na loja de minha irmã e vi todas as roupas marcadas com o meu nome. Tinha virado peça de roupa. E tudo isto a propósito de poder mostrar a minha felicidade em dizer Obrigada ao Luis e Luis!

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