sexta-feira, 28 de maio de 2010

Fotografias da Mente – Diana Krall

Luís Rocha
Campo Pequeno/Lisboa (10.10.2009)

Logo que se anunciou a vinda de Diana Krall para um concerto em Lisboa, tomei de imediato a decisão de ver ao vivo uma interprete que, pela harmonia da sua voz com o piano associei, desde o inicio da sua carreira, ao grande Ray Charles.

Comprei o bilhete logo em Março.

Chegado o dia do espectáculo aí vou eu munido de binóculos para poder ver, em pormenor, detalhes que só são visíveis e sentidos ao vivo.

Entrei no recinto onde, pela primeira vez, ia a assistir a um espectáculo musical. Procurei o meu lugar e dei comigo sentado na bancada central, com uma plateia que nos separava do palco que se encontrava no lado oposto.

A cadeira era desconfortável e quase não havia espaço para as pernas.

No palco sobressaía, entre os instrumentos que já lá estavam, o piano de cauda preto.

O espectáculo começou com a entrada de Diana Krall e acompanhantes. Trazia um longo vestido preto, ajustado às formas do seu corpo e a condizer com o piano. A pele branca do rosto e braços, bem como os cabelos louros e compridos, realçavam a sua beleza naquele vestido preto.

Recebeu os primeiros aplausos e dirigiu-se para o piano, onde os seus dedos começaram a acariciar as teclas, fazendo sair um som em harmonia com a sua figura e, logo em seguida, com a sua voz.

De imediato me apercebi que aquele recinto não tinha as condições acústicas adequadas, para uma interpretação onde sobressaem a voz e o piano. Senti-me frustrado nas minhas expectativas.

Queria sentir-me em comunhão com a sua voz e os acordes do piano mas, com a qualidade daquele som, não era possível.

Tendo de me sujeitar às más condições acústicas, apurei os sentidos nos pormenores.

Ainda bem que tinha levado os binóculos, pois foi através deles que consegui viver uma parte do que esperava, daquela oportunidade de ver Diana Krall ao vivo.

Foquei a visão sobre a sua figura. Primeiro as expressões do rosto e em particular dos lábios de onde saía aquela voz cuja sonoridade, na minha opinião, parece irmã gémea da sonoridade que os seus dedos vão tirando do piano.

Depois começo a percorrer a imagem do seu corpo, onde sobressai um peito que se adivinha lindo. A seguir aos ombros e braços longos as mãos. Aí foco os dedos e deixo-me ficar um bocado a deliciar-me com a sua movimentação. Parecem bailarinos de ballet, quando tocam apenas com a ponta dos pés no chão.

No caso dos seus dedos estes tocam as teclas do piano, numa carícia de amor e cumplicidade.

Continuei a visualização percorrendo o resto do seu corpo, até chegar aos pés. Aí, um pouco do branco do peito dos pés sobressaía dos sapatos pretos que os envolvia.



Para além dos movimentos de pé nos pedais do piano, o pé direito ia marcando o ritmo com pequenos toques no chão.

A delícia daqueles movimentos, tão naturais e em total harmonia com a sua voz, o som do piano e da volúpia do seu corpo, davam a imagem perfeita do chamado “amor tantrico”.

Aquela visão binocular, isolou-me do meio envolvente e foi como se ela estivesse a tocar só para mim. Senti-me também parte daquela relação “tantrica”.

O espectáculo terminou e, ainda hoje, tenho na mente as imagens que vi e vivi e jamais vou esquecer.

PS: O texto que escrevi é apenas um “flash” da mente e não consegue reflectir a profundidade da imagem que tenho comigo.

Deixo à vossa imaginação o vídeo que junto

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