terça-feira, 1 de junho de 2010

Vigilante

Luis Rocha

O meu amigo Luís Moreira tem insistido comigo para publicar telas da autoria da minha irmã (Maria de Lourdes Fernandes Rocha) falecida em 16 de Novembro de 2009 com 60 anos que, apesar do seu espírito e força de luta, não resistiu ao terceiro cancro.

Tal como eu nasceu em Castelo Branco. Formou-se em Medicina na Faculdade de Lisboa. Depois de casada e ter passado por alguns hospitais, emigrou para Torre de Moncorvo (onde o marido, licenciado em Direito, tinha nascido e para onde decidiu ir exercer a profissão). Assim foi para o Hospital de Torre de Moncorvo onde chegou a ser Directora. Para Novembro deste ano a Câmara de Torre de Moncorvo, anunciou homenageá-la com a colocação de um “busto” no Hospital.

A morte do nosso pai em 1981 foi uma das primeiras nuvens escuras da sua vida. Mais tarde surgiu o primeiro cancro numa mama e, no ano seguinte na outra. Fez os tratamentos de Rádio e Quimioterapia. Como médica, mas principalmente com a força de lutadora que sempre a caracterizou, enfrentou o “animal”.

Reformou-se, passando a exercer medicina privada e, se até aí já era uma pessoa dedicada ao serviço da saúde, passou também a dedicar-se a acções sociais de que são testemunho, entre outros, a sua participação como voluntária no Corpo de Bombeiros e a criação de uma Associação “ O LEME” de apoio aos doentes do cancro.

Como forma de luta elegeu a escrita (publicou dois livros) e principalmente um dom que não sabia que tinha – o da pintura.

Nas noites em que as dores não a deixavam dormir, pintava até de madrugada o que lhe ia na alma. Pintou dezenas de telas e fez várias exposições.

A pedido do meu amigo, apresento acima uma pintura que reflecte a sua maneira de estar e lutar.

Quando vi este quadro pela primeira vez escrevi sobre ele o que a seguir transcrevo:

“Algumas nuvens de poeira esmoreceram, durante algum tempo, aquele brilho de força e esperança.

Por ser incontrolável a poeira que já começava a desanuviar, adensou-se e o brilho ficou de novo ofuscado.

Mas aí veio ao de cima a força interior daquela mulher que com um forte sopro de esperança, começou a esbater a nebulosidade provocada por aquela nova poeira.

Renasceu uma nova mulher com um brilho ainda mais intenso de ESPERANÇA E AMOR.

Sempre Vigilante seguia o seu caminho.”

1 comentário:

  1. Belo texto. A Lurdes, assim, continua entre nós.Um forte abraço fraterno.

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