sexta-feira, 25 de junho de 2010

A casa mais estreita de Lisboa

Ethel Feldman

A história é toda ela verdadeira. E aquilo que achares exagerado, deixa passar, coloca à margem e segue comigo o texto, porque a casa existe. Se quiseres levo-te lá. Então, vais querer voltar a ler tudo o que achaste demasiado no meu texto.

A casa mais estreita de Lisboa. Toda branquinha por fora. No primeiro andar uma varandinha azul brinca com o resto do branco. Fica entre dois prédios. Daqueles normais que todos nós conhecemos. Sabes o que parece? Olha, parece que o arquitecto da época enganou-se e deixou um buraco entre os dois edifícios!

Ontem disseram-me:

- Então não sabes que naquela época os homens só tinham um metro e meio?

Confesso que esbocei um sorriso apatetado, um metro e meio tenho eu e mal caibo no apartamento!

Por dentro a casinha não tem sequer dois metros de largo. Cresce em altura enquanto estreita. Parece um conto de fadas. Quanto mais crescida mais estreita!

Eu quanto mais envelheço, mais cresço em largura.

Não posso alugar esse apartamento!

Um dia não caberia na casa. Um dia, tenho a certeza, acabaria presa na escada, no caminho entre o r/c e o primeiro andar. Todos os pequerruchos da rua iriam me visitar.

- Olha a fadinha gordinha. Está quase uma bolinha...

- Oh Fada, deixa-me subir! Não vês que bloqueias o nosso caminho?

Eu sei que ficaria com a cara toda encarnada. Para disfarçar com um sorriso, diria:

- Meu querido amiguinho, nem sabes a sorte que tens em não seguires por este caminho. Quem aqui subiu foi estreitanto-se, estreitando-se até que se transformou num fio...

- E quem te disse que ser fio não é baril?

Se depois de leres tudo achares que é tudo mentira, telefona-me que eu te faço uma visita guiada a essa casinha que cresce sempre em altura.

6 comentários:

  1. Tambem a conheço e sempre a olho com carinho e curiosidade quando passo ali à D. Estefânia...

    ResponderEliminar
  2. se depois de leres tudo, não encontrares um poema de amor que rime com dor, entra na casa e sobe as escadas. refém da memória mora lá quem escreve à espera de quem a liberte. tente quem nasceu curioso e o coração de um herói. cuidado pois se a qualidade for somente a curiosidade o castigo será penoso!

    ResponderEliminar
  3. Luis, por acaso é em Sapadores! Temos de medir as casinhas e ver qual é delas vence a pobreza de espaço!

    ResponderEliminar
  4. A casinha é de tabuínhas...A que conheço como a mais estreita, vê-se de cima, numa posição dominante o que a torna mais estreita e mais acolhedora. Mas se a virtude é a do amor então é mesmo em Sapadores. A que conheço há muito que está vaga...

    ResponderEliminar
  5. A mim disseram-me com a certeza de quem tudo sabe que esta casinha é mesmo a menor. Nada como irmos os dois munidos de um bom olhar e de uma boa fita métrica!

    ResponderEliminar