Manuela Degerine
Capítulo XIX
Etapa 8: De Caxarias a Ansião
Decorreram duas semanas e meia durante as quais fiz companhia à minha mãe nas Sarzedas do Vasco, um espaço isolado de tudo e até, tanto quanto possível à face deste planeta, da poluição: a estrada acaba ali e os velhos que lá vivem servem-se de adubos, pesticidas, herbicidas e motores com relativa moderação. O silêncio tem vento nas árvores, castanhas a cair, badaladas do sino na aldeia vizinha.
Por razões de calendário escolar, a última vez que ali estive no Outono acabava de fazer nove anos; vivi então dezoito meses em casa dos meus avós. Só agora redescobri com estas cores e odores o espaço tão conhecido: o pinhal é um cor-de-rosa imenso de urze em flor e muitos cogumelos também exibem tons que contrastam com os verdes: roxo, amarelo intenso, branco luminoso, cor-de-laranja... Passaram-se quinze dias num ápice. Apanhei castanhas. Apanhei azeitonas. Escrevi. Li. Fiz uma caminhada – muito curta, apenas oito quilómetros, entre Castanheira de Pêra e Sarzedas do Vasco. Conversei com parentes; ali todos o são.
Fui feliz junto da minha mãe.
No dia 8 de Novembro, um Domingo, o meu irmão vem buscar a minha mãe e deixa-me em Tomar, de onde saio no dia 10 para Caxarias, prevendo caminhar trinta quilómetros até Ansião. Uma etapa comprida. Sinto-me ainda com pouco treino; porém entre Caxarias e Ansião não há onde possa pernoitar. Impõe-se portanto eu avançar até ao fim da etapa. Chego a Caxarias por volta das nove horas. O meu amigo António Pereira, que me deu boleia, até me leva à igreja: o ponto de partida da oitava etapa.
O céu encontra-se um pouco coberto, como convém, a temperatura é também agradável e nem falta uma brisa refrescante. Trago uma mochila nova, com bolsos exteriores, pretensamente ergonómica; a verdade é que agora sinto mais o peso das bagagens. E, como a nova mochila tem espuma nas alças e nas zonas que aderem às costas, molha-se com a transpiração – isto torna-a depressa desagradável. Às bagagens da precedente viagem acrescentei outra camisola, um saco-cama espesso, bastantes bolachas com gérmen de trigo e vitaminas, que não encontrarei em qualquer supermercado, o meu favorito chocolate preto – um vício. Mais um litro de água. Peso total: seis quilos. Isto é... Muito mais que 10% do meu peso. Vou portanto demasiado carregada. Seis quilos no regresso do supermercado não são nada, ao longo de trinta quilómetros tornam-se, para a minha fraca pessoa, uma carga bruta. Mas avante. Terei ao longo do dia boas razões para comer mais alguns pedacitos de chocolate... Isto é: aliviar a carga.
segunda-feira, 14 de junho de 2010
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Eu faço imensas caminhadas mas dentro da cidade.Há sempre, um restaurante ali na esquina onde se bebe uma água, um banco onde me sentar, até um táxi se estiver demasiado cansado. Mas no horizonte sem fim? Que coragem!
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