terça-feira, 29 de junho de 2010

Ontem e hoje: o crescimento das crianças (5)

Raúl Iturra





O crescimento das crianças de hoje, é fundamentalmente diferente ao crescimento de ontem. O de ontem, tinha um objectivo centralizador da actividade familiar, obter terra por meios para todos iguais. Os de ontem, são criados no derrube de um sistema da aristocracia, que eles têm que reconstruir outra vez na base da sua própria força. Os de hoje, têm um objectivo igual, mas que dispersa e tira do elo estruturador antigo, a propriedade rural. O capital é o objectivo individual e autónomo. Como diz o Presidente do Sindicato de Agricultores da Extensão Agrária Galega, há muita gente no campo e é preciso limpar e redistribui-los pelas outras tarefas, encher as cidades e as habilitações, as industrias e a poupança. Fazer de cada um, uma força empresarial. Que já existe na sua mentalidade.

Embora Victoria, Pilar e Anabela continuem na ideologia ocidental cristã, esta ideologia não é outra que a que se adapta á exploração do consumo e da procura. Há que ter bens para vender e dinheiro para comprar. E a União Europeia encarrega - se de que o gasto, exista. Dívidas como créditos, que, enquanto mais tarde se paguem, é melhor. O crescimento das crianças modifica a aliança reprodutiva. Não é suficiente desejar, não é suficiente a paixão. A pessoa parceira deve é ter terra ou industria ou emprego para investir dinheiro no futuro lucro. Lucro que sintetiza o contexto dentro do qual crescem hoje as crianças. Com o prazer de se divertir. Como a Bertita, que enquanto é professora primaria, também faz música. Ou o seu irmão Pedro, que desenha e de esse desenho técnico, tira prazer e vive. Ião querer trabalhar no campo?


Quando o campo era esse sitio divertido para andar de cavalo, com a vizinha estrangeira, nos porcos da matança, denominados em esse tempo Juan Carlos e Sofia. Vizinha estrangeira que hoje acumula graus doutorais para analisar seres humanos, longe do sítio do qual falo. Vizinha estrangeira que, como Beatriz, José Gregório, Carlos Varela, Berta, Pedro, António o traste, Pilar, Anabela, Victoria, têm a sua casa própria por eles comprada, para alem das herdadas. Em tanto os pais suam e continuam a tentar entender o mundo com a teoria da pós-modernidade. Porque a teoria que nos tem levado a África, a América Latina, a certas Europas de hoje, já não é aplicável. Mesmo que, vários de nos, as vamos adaptando, à Chaplin, a estes tempos modernos. Que são os da expansão do capital, aceite por todos e não apenas pelos que crescem enquanto produzem riqueza. É o que tem levado a Anthony Giddens (1991) a falar de identidade e a defini-la da forma invocada antes, como a pertença a um grupo que é sabido que é o nosso. Porque o grupo largo, é demasiado igual universalmente para poder falar de Nacionalidade. Como defende Ramón Maiz (1997), e não acaba de entender Xosé Manuel Beiras (1984).

Em Portugal, defendem os citados Sousa Santos, Ferreira de Almeida, Madureira Pinto, Steven Stoer, Luiza Cortesão, Fernanda Rodrigues. E que eu tento defender desde a voz meio apagada da Antropologia. Como continua a fazer Jack Goody (1993) e Eric Hobsbawm (1994), adaptados á modernidade nos seus oitenta e muitos anos. O crescimento das crianças e o seu contexto, é o que deve ser compreendido pelos educadores, a epistemologia coordenada que é produzida pelo respeito ao passado cultural e as normas do mercado. A experiência é a base do experimento. O experimento é já conhecido, a experiência, fica para nos observar e dizer e sermos ouvidos. Ouvidos de diferente forma em diferentes tempos do ciclo do tempo de saber das pessoas. Quando as crianças nascem, são fruto da paixão dos progenitores, que as amam por elas e pelo amor que existe entre eles. É o típico caso de Victoria, cujos irmãos foram resultado da paixão de Clodomiro e Yeyé. Ou o caso de Pilar, quando a filha nasce pelo amor que o pai tem a mãe e que faz a ele casar, emigrar, investir, desenvolver o grupo doméstico. Ou o caso de Anabela, donde o amor de António por Fernanda, convence a Fernanda de ser seduzida, casar e ter filhos. Para todos ele, o matrimónio é parte da procriação. Todos eles casam já com a gravidez das mães ad porta.

António O Ferreirinho, é um caso mais, bem como vários dos seus filhos. Em uma primeira etapa, esses filhos são o resultado do desejo do homem pela mulher e ao contrário. Mas, o tempo vai passando, as obrigações aumentando e os cuidados passam a ser mais complexos. Os filhos entram na etapa da inclusão do relacionamento social, da escola, dos livros e materiais de trabalho, dos rituais com os que a sociedade demonstra de que a criançada não é só dos pais que as fazem. Os ancestrais vem o incremento de cuidados ser complexo, indicações, orientações, as roupas, os amigos que vêm de fora de casa, os primeiros segredos da pequenada que os pais querem descobrir e acautelar. Como se o tempo de escolha entre eles, não tiver começado ainda. E, no entanto, há mais do que uma escolha de que a criançada que cresce, faz longe dos pais. Mesmo, a selecção dos namoros, das amizades, do tipo de hobby que desejam, a iniciação na vida adulta. Os adultos, pensam que podem dominar o afazer deles, sempre. E tentam. E a criançada, como diz Roy Lewis (1960), tem que comer ao pai, tem que passar pela etapa em que se liberta das ideias que os pais estão a impingir. Embora não saibam farelo pela sua falta de experiência na vida. O crescimento das crianças é muito feito pelo grupo social mais pequeno, de que eles vão-se rodeando. E que os pais vigiam, ainda que não possam sempre intervir. O mito que Robertson Smith (1885) tem estudado e Freud (1920) analisado para o ocidente, passa muito por fagositar ao pai, por comer ao pai. De uma forma metafórica. Mas, socialmente, certa. Até formarem a sua autonomia e independência. Autonomia e independência que os leva a formar o seu lar, a produzir a sua própria descendência. Idade e tempo no qual vão solicitar colaboração outra vez colaboração aos ancestrais que ficaram em casa. Especialmente a família da mulher, que tem mais abertura com a sua própria mãe, que com a mãe do seu homem.

E é assim que os filhos voltam a casa. E que o crescimento passa por uma etapa de educação da filiação e acumulação do saber pela experiência que se adquire, e de dinheiro, para resolver os gastos que devem aparecer. E um terceiro período da relação de crescimento, quando os pais já são os avós que, ainda novos, podem receber filhos e netos em casa e visitar netos, ou ficar com eles, quando for preciso. Desde que começa a paixão entre dois, começa um processo de mudanças no detalhe da interacção. Um processo de elo de ligação cíclica de saber a traves do tempo. Que é como as crianças crescem em contextos diferentes, ontem e hoje.

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