Carlos Leça da Veiga
Como vamos de exemplos Se dum desses Homens de Estado, dentro quantos pululam entre nós, um chefe político, um Homem inteligente, muito lido mas não tanto quanto faz crer, muitíssimo comprometido, educado, melhor dito, instruído para a política, nada habituado a cumprir, vaidoso ao máximo, egoísta como poucos, nada dado ao trabalho, sem projecção profissional significativa, matreiro em excesso e, como raros, sujeito de amparos poderosíssimos e de poderes internacionais muito para além do imaginável, desse mesmo, já só resta ter de ouvir-se o discurso requentado que se, muitos anos atrás, até já não tinha sentido pleno, nos nossos dias, dentro ou fora da gaveta, todos o podem verificar, a muito pouco consegue chegar. Seja como for – é uma convicção muito forte – continua a ser quem pontifica na respectiva área política onde, apesar das aparências em contrário, tudo quanto seja mais importante decorre do seu magistério e nunca, senão formalmente, de qualquer dos seus descendentes políticos que formalizam o cargo de seus herdeiros na direcção partidária. Neste 2009, a avaliar-se pelos seus escritos e entrevistas mas, também, por comentários dos seus mais fieis seguidores partidários, ainda parece poder esperar-se que prepare um enredo para, dalgum modo, com o populismo bastante, tentar dulcificar o neoliberalismo deslizante, haja, para tanto, alguém com méritos políticos reconhecidos e capaz dar a cara a uma alternativa não socratina, o que, note-se, na prata daquela casa partidária, ao que parece, já é coisa difícil de encontrar.
O outro Homem de Estado, que continua a marcar decididamente a outra vertente das que integram o bloco direitista, é um universitário com parca publicação científica, um farol doutrinário, embora sem estofo, dos direitistas portugueses, uma figura em concorrência constante, embora um tanto tosca, com o velho autoritarismo ditatorial, uma personalidade política acoitada, por regra, no refúgio dos tabus, um homem desagradado da controvérsia, um político que – di-lo – nunca tem dúvidas e é raro enganar-se, um académico abrigado num discursar sem um ideário político bem definido mas todo sustentado – mal sustentado – numa veneração profunda dedicada às virtudes absolutas que atribuí à chamada economia de mercado. Faz ouvir-se por força duma antiga autoridade partidária que o acaso da vida política proporcionou e, hoje em dia, apesar do papel interveniente reservado pela Constituição – muito maior de quanto tem sido usado – limita-se a contemplar visões circunstanciais, momentos políticos efémeros, umas e outros, defendidas, quantas vezes, pela barreira do hermetismo técnico, por quaisquer constrangimentos menos esclarecidos, pela invocação moralista do que julga virtudes ancestrais e, também, não poderá esquecer-se, pelo discursar ressumbrante dum linguarejar em que não estão ausentes estigmas “pimba”. Enfim, um produto duma ascensão social inesperada, um tanto à moda bonapartista, como a que tem fertilizado as colunas sociais portuguesas.
Dois Homens de Estado que mesmo ausentes das lides políticas parlamentares directas, apesar disso, tal como pode deduzir-se, prosseguem na orientação dos dois maiores conjuntos político-partidários que, ainda agora, dominam a cena política portuguesa. Os seus comportamentos, intenções, avaliações, conselhos e influências – quais padrinhos – continuam a influenciar as opções daqueles seus sucessores nas chefias partidárias cujos esgares denunciam as paternidades respectivas sejam aqueles de troça, sobranceria e desdém tão óbvios num dos ascendentes como os de suposta circunspecção, reserva e solenidade acaciana a adornarem o outro.
Agora, todos esses trejeitos, como reproduções artesanais muito descoloridas, aparecem reproduzidos nas figuras um tanto pindéricas, populistas e toscas dos seus continuadores.
Com efeito, num e noutro dos discursos dos chefes de fila operacionais da continuidade político-partidária nacional – uns continuadores com pouca fibra – por força dos seus idealismos e das suas ilustrações mínimas não consegue vislumbrar-se-lhes uma qualquer aposta consistente e insistente num devir auto dinâmico para as transformações que cada qual, a modos bem diversos anuncia com constância. Nada do que analisam, sem que possa ignorar-se a superficialidade manifesta das suas predisposições, intenções, previsões e prédicas, não passa dum enviesar inevitável e mal acabado das justaposições consideradas.
Nada de quanto e daquilo que deduzem, ou sugerem, consegue aparecer integrado no todo universal – estratégico, político, cultural, económico, ecológico e social – do qual, por óbvio, terão de ser inseparáveis. Assim, tudo quanto anunciam desejar poder concretizar surge fechado sobre si mesmo, derrotado à partida e nunca projectado na espiral que anuncia novos panoramas. Matam toda a esperança ao ficarem presos nas conclusões erradas que acabam por perfilhar, presos com estão aos seus «ídolos de teatro», isto é, nada mais e nada menos que os seus compromissos menos justificados e as suas tergiversações pouco recomendáveis que, note-se, por seu turno, com habilidade e subterfúgios, têm o cuidado de nunca deixar vir à luz do dia. No mais essencial bem poderá dizer-se que a qualquer dos chefes nacionais – em acção, em projecto ou na retaguarda táctica – por força da sua formação idealista, falta terem os alicerces duma dialéctica capaz de possibilitar-lhes um pensamento analítico objectivo. Por muito que nas suas discorrências políticas queiram anunciar-se como obreiros duma intervenção sociopolítica de feição humanizante será obrigatório dizer-se que nunca, por nunca, ela foi vista aparecer relacionada com qualquer prática de coisa feita. Dos desígnios políticos que realizaram, desses, bem poderá dizer-se terem sido exemplos flagrantes de retrocesso político, cultural e social – os indicadores socioeconómicos não o desmentem – e, sobretudo, de como pode estar-se ao serviço dos interesses económicos dos possidentes, os de cá e de fora. Ao aceitarem fazê-lo, tal a desfaçatez empregue, que não acautelaram, com o cuidado devido, a preocupação de não quererem mostrar-se como sendo alguns dos seus melhores servidores. Se dalguns arrufos políticos já deram mostra, a experiência tem comprovado tratarem-se, tão-somente, de encenações populistas para conseguir votos.
A eles, desde o 25 de Abril, como a mais ninguém, no decurso das suas passagens pelos executivos nacionais, sem excepção, fica a dever-se a colocação acentuadíssima dos Homens e das Mulheres portuguesas numa dependência servil do exterior e ao inteiro serviço da economia – a dos maiores possidentes – tudo feito à revelia dos interesses socioeconómicos reais e mais sentidos da maioria da população nacional que, esses, na realidade, é que são, ou representam, os interesses nacionais mais verdadeiros.
quarta-feira, 2 de junho de 2010
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É, realmente, impressionante como essas duas figuras há mais de 30 anos influenciam a política. É capaz de ser uma das razões que nos arrastam nesta voragem sem sentido...
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