Carlos Leça da Veiga
Haverá interessados numa Terceira República?
Se não podem haver dúvidas sobre o benefício da chegada a Portugal dos primeiros iluminados já o mesmo não será possível dizer-se sobre quantos, por cá, pretenderam seguir-lhe e continuar-lhes as passadas.
Ainda hoje, com resultados muito insatisfatórios, continua a fazer sentir-se a influência dessas gerações de continuadores que, entre nós, passaram a ter presença um tanto influente para – quantos sem merecimento – alcançarem uma posição avassaladora e decisiva na sua intervenção cultural que, como a História no-lo demonstrou, não teve reflexo à altura do que era mais necessário à população nacional e, também – terá de reconhecer-se – foi muito mal sucedida na sua contribuição, chame-se-lhe, de feição política.
Na verdade, assim aconteceu tanto no período da Monarquia constitucional como naquele da Primeira República em que, uns atrás dos outros, tanto os idealismo dos reaccionários como os dos jacobinismos destemperados, com os seus erros políticos em acumulação crescente, haveriam de vir a descambar na ditadura do salazarismo fradesco, uma particularidade amarga que levou o país para cinquenta anos dum absolutismo neomiguelista cujos resquícios lamentáveis, de novo – digam o que disserem – vivem, a lume brando, numa lenta mas paulatina emergência. Mais uma vez, importa tentar contrariá-los.
Na Segunda República, esta em que vivemos, os herdeiros políticos dessas castas política e intelectualmente dominantes são, hoje em dia – evolução a quanto obrigas – os proprietários possidónios duma pequenez mental digna de nota que só têm sabido colocar os portugueses perante uma democracia viciada, um regime de compadrios e nepotismo, um dia a dia de ilegalidades e de desconchavos, tudo sem qualquer sanção jurídica e, forte vergonha, numa despropositada submissão ao expansionismo despótico dos interesses políticos, económicos e militares tanto da OTAN/EUAN (recorde-se o salazarismo) como duma EU, esta, em evolução para o IV Reich.
Foi à custa substancial dessa racionalidade importada do centro europeu – uma zona europeia com percursos e interesses históricos completamente distintos do português – que a tal “modernização” por cá tem estado a ser imposta, alcançou ganhar um estatuto saliente, gerou iniquidades, distribuiu benesses, provocou pobreza, desemprego e precariedade para, a todo o instante – tenha para isso uma oportunidade política – à custa de manobras propagandistas e, por igual, dum pessoal político bem adestrado saber apresentar-se como sendo e tendo a melhor resposta política e económica para Portugal que, como reafirmam – tal a sobranceria exibida – é a única resposta para o que designam como as inquestionáveis necessidades nacionais.
Trata-se duma versão recente daquela muito querida por uma certa intelectualidade – se o foi e se o é – que, desde há cerca de duzentos e cinquenta anos, com uma fidelidade canina, prossegue na cópia de regras, hábitos, costumes, revoluções e perspectivas importadas do estrangeiro. De facto, para as figuras públicas mais proeminentes – os verdadeiros chefes de fila e os indutores efectivos da opinião pública – é indiferente, por completo, saberem para que serve o que mandam vir de fora, desde que as suas carreiras pessoais, as suas apetências ideológicas, as suas vivências mundanas e os seus patrimónios prossigam com destaque social. Para tanto basta-lhes que a sua linha política interventiva deve sujeição, aliás bem favorecida, às determinações do exterior sejam às da OTAN/EUAN, sejam às da UE, organizações que, uma e outra, são pródigas em facultar-lhes toda a protecção política e social necessárias.
Por muito que seja dito o contrário, qualquer destas organizações internacionais, anos a fio, mantêm uma encenação política que reafirmam ser democrática, porém, a verdade manda dizê-lo, repleta de aparências enganadoras que, contra toda a evidência, minuto a minuto, é muito elogiada, pelos próceres portugueses, esses morgadelhos de arribação. São organizações internacionais que, bem feitas as contas, só têm prejudicado a imensa maioria da população portuguesa, como disso é-nos dado conta, por serem elucidativos, não só os maus indicadores económicos, sucessivamente produzidos como, também, os envolvimentos disparatados em quezílias internacionais em tudo estranhas aos interesses e tradições nacionais.
(Continua)
segunda-feira, 28 de junho de 2010
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