domingo, 18 de julho de 2010

Gaspar Martins - um soldado oliventino do século XVII

Carlos Luna


Já se sabe que as guerras são momentos de muita crueldade e desumanidade. Não há dúvida de que constituem a pior invenção do ´"génio"(?) humano.

Apesar de tudo, temos de falar delas. Dos heróis. Dos traidores e das vítimas. Talvez para que as suas histórias nos sirvam de lição e procuremos outros caminhos para resolver desinteligências.

A Guerra da Restauração (ou da Aclamação ) foi um conflito terrível. Vinte e oito anos (1640-1668) de destruição e ódio. Grande preço pagaram os povos de Portugal e Espanha para que se reconhecesse o que devia ser evidente, já então, mesmo com as limitações compreensíveis da época (Século XVII): que cada povo deve poder governar-se por si só, e decidir o seu próprio destino.

Portugal, em revolta porque achava que esse direito fora violado, cuidou de se fortificar logo a partir de 1640. E um especialista holandês, jesuíta, Jan Ciermans, mais conhecido pelo nome latinizado de João Pascácio Cosmander, foi contratado para fazer planos de fortificações estilo "Vauban", incluindo entradas secretas e outros pormenores.

Quis o destino que Pascácio Cosmander mudasse de opinião, talvez por dinheiro, talvez por convicção. E, ao serviço da Coroa espanhola, tornou-se um perigo imenso. Ele podia introduzir inimigos, sem dar nas vistas, nas praças fronteiriças portuguesas cujos planos ajudara a elaborar. Na raia alentejana, instalou-se um clima de medo.

Assim foi. Cosmander tentou entrar na Praça de Olivença, mais ou menos disfarçado, em 1648. Mas...foi reconhecido. Um carpinteiro, "guerrilheiro" voluntário na Guerra, chamado Gaspar Martins, não hesitou ao vê-lo, e matou-o com um disparo certeiro.

Logicamente, o atento oliventino viu-se transformado em herói.

Recebeu mercês e bens vários, e tornou-se um exemplo para as gentes da Raia Alentejana. Os seus descendentes viriam ainda a beneficiar das recompensas. O exército português respirou de alívio.

Podemos hoje meditar sobre a real valia deste tipo de feitos. Mas o sentimento da época foi claro. Na memória popular, principalmente em Olivença, algumas quadras imortalizaram o feito:

Já morreu o vil traidor
p`ros infernos muitos anos
quis vender o nosso povo
ao poder dos castelhanos.


Cosmander foi um vilão
ao serviço dos mariolas
mas teve morte de cão
com sepultura d'esmola.


Era um diabo, um malvado
sem honra nem coração;
dorme, filho, descansado,
que já morreu esse cão.


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