Maria Cecília Correia
(colocado por sua filha, Clara Castilho)
História para adormecer uma menina doente
A Clara adoecera e puseram-lhe uma borrachinha de água quente no peito para aliviar a tosse. Então começou a chorar de tal maneira que parecia o fim do mundo. Nada estava bem: a roupa picava, o nariz entupia... só desgraças!
A mãe prometeu contar uma história com a condição de ela não chorar mais. “Conta, mãe, conta!” E as lágrimas rolaram mais devagar, ficando algumas já aninhadinhas na encosta do nariz. O pior é que a mãe não se lembrava de nenhuma história e ia falando devagar para inventar ao acaso. E foi dizendo:
– Havia uma ratinha que tinha dois filhos, a Ferrunfofinha e o Ferrunfofinho – nomes que a Clara achou esplêndidos, compridos e complicados – E a ratinha levou os filhos à escola porque queria os filhos com estudos. Mas, nos dias seguintes, só a Ferrunfofinha foi à mestra; o mano deixou-se estar no jardim porque não lhe interessava a escola, nem as letras, nem os números, só queria jogar ao que bem calhasse. Era mais divertido do que estar atento, horas seguidas, ao que a professora ensinava. Mas um dia a mãe, pensando que já passara o tempo de eles saberem qualquer coisa, comprou um livro de histórias. E então é que foram elas! A Ferrunfofinha leu devagar, mas já segura. Mas o Ferrunfofinho, que desastre! Viu-se que não sabia juntar o A com o B. A ratinha mãe estava pasmada; como é que um dos seus filhos sabia ler e o outro não entendia nada do que vinha no livro? O Ferrunfofinho não teve outro remédio senão confessar que tinha faltado às aulas desde o primeiro dia. “Faltaste às aulas? E porquê, não me dizes? Não queres ser um rato com instrução?” Ela estava mesmo zangada! O Ferrunfofinho ficou cheio de desgosto por ter arreliado a mãe e prometeu que nunca mais faltaria à escola; já não queria ser um ratinho preguiçoso e ignorante.
Os olhos da Clara brilhavam de prazer enquanto ouvia estas pequenas aventuras dos ratinhos. A borracha já não queimava, o nariz não estava entupido e a roupa não picava. Tudo tinha entrado na boa ordem, como acontece quando uma mãe conta uma história para adormecer os filhos.
Maria Cecília Correia Borges Cabral Castilho (1919-1993) nasceu em Viseu e faleceu em Lisboa. Conhecida nos meios literários por Maria Cecília Correia, dedicou-se sobretudo à Literatura Infantil. Deixou um conjunto de livros inspirados no real, no quotidiano e cujas histórias têm como tema o mundo da criança: a beleza, o sonho e a magia.
NB: para me conhecerem um pouco. Conseguem imaginar-me com esta mãe? O que dela ficou em mim?
domingo, 25 de julho de 2010
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O mundo é injusto. A minha abandonou-me aos três anos!Ainda quando os priveligiados dão em pessoas boas,como é o caso...
ResponderEliminarObrigada, Clara. Beijo
ResponderEliminarA Maria Cecília era o amor em pessoa.
ResponderEliminarFelizes os que a conhecemos.