quinta-feira, 15 de julho de 2010

Reencontros (III)



Luis Rocha

O tear mecânico (foto ao lado)

Segundo o testemunho da minha mãe terei sido gerado na Rua do Castelo (zona da cidade velha) e por que a casa apenas tinha um quarto, mudaram para outra situada no Bairro a que chamavam do “Montinho” local onde nasci. (não consegui informação sobre a razão do nome do Bairro).

A casa situava-se muito perto da “ Auto Mecânica da Beira “ onde o meu pai trabalhava. Segundo informação do jornal “ Reconquista” tratava-se de uma grande empresa na área da Indústria metalo-mecânica (fundada em 1925), rivalizando com indústrias congéneres estrangeiras, no aperfeiçoamento e concepção de mecanismos, nomeadamente no fabrico de teares mecânicos, para a Indústria de Lanifícios.
O meu pai que começou a trabalhar naquela fábrica em 1945, como serralheiro chegou a ser o chefe do sector de fabricação daqueles teares.

Significado da palavra Tear: aparelho ou máquina para o fabrico de tecidos, malhas ou tapetes.

Pequena resenha sobre a história do tear mecânico:
É um dos principais símbolos da Revolução Industrial (sec XVIII). A sua fabricação iniciou-se em 1743 (Edmund Cartwright). Depois de alguns fracassos na área da comercialização, o francês Joseph-Marie Jacquard inventou em 1801 um sistema de automatizar a tecelagem por meio de cartões perfurados (lembro-me de os ver e do meu pai me explicar para que serviam). Eram um guia para a máquina tecer os padrões de cores, de acordo com os desenhos que se pretendiam para os tecidos a produzir.

Inspirado na técnica dos cartões perfurados do tear de Jacquard o matemático Inglês Charles Babbage, projectou em 1822 uma máquina precursora dos primeiros computadores, que mais tarde (1860) foi aproveitada pelo americano Herman-Hollerith, fundador da International Business Machine (IBM), que aplicou o sistema Jacquard-Babbage nas
máquinas de calcular, três vezes mais rápidas que as calculadoras existentes até então.

Foram os primeiros passos para a era dos computadores mais rápidos. Eu ainda trabalhei com computadores em que a programação era feita em cartões e ou fitas perfuradas. Antes disso ainda houve umas máquinas (com que também trabalhei), onde se faziam os registos de dados em fichas com tarja magnética.

O meu pai dizia que as Industrias de tecelagem do norte já tinham teares alemães (automáticos) que eram mais sofisticados, com tecnologia mais avançada, mais rápidos que os teares mecânicos e portanto com maior capacidade de produção. O meu pai também fazia manutenção e reparação desses teares, o que mais tarde lhe foi muito útil, quando deixou de trabalhar na Auto Mecânica e foi para o Cebolais de Cima trabalhar numa Fábrica de Tecelagem, como chefe da mesma.

Tanto quanto me lembro a Auto Mecânica da Beira vendia teares para diversos pontos do país, Covilhã, Cebolais de Cima, Tortosendo, Castanheira de Pêra, Porto, etc. Os teares eram transportados em peças. Uma das tarefas do meu pai era ir só, ou com uma equipa, montar o tear no local de destino. Lembro-me bem, dado que isso resultava em ausências suas de 2 a 3 semanas o que, na altura, tinha para mim alguns aspectos positivos, assunto a que voltarei lá mais para a frente.


A “Auto Mecânica da Beira, tornou-se conhecida em todo o país.

Trabalhavam na Fábrica cerca de 300 operários que usavam uns fatos de ganga azul (mais conhecidos por fatos de macaco) que estavam sempre sujos e gordurosos dos óleos, o que obrigava a ter mais de um e a uma lavagem manual constante com água quente e esfregados com sabão azul ou cor de rosa o que, diz a minha mãe lhe fazia borregas nas mãos. A maioria das mulheres lavava os “ fatos de macaco” na “Fonte Nova” perto do cemitério de Castelo Branco.

Quando se rompiam as mulheres coziam e ou faziam remendos com ganga comprada ou ganga de outros fatos de macaco, que os homens já não usavam mas que elas guardavam, para utilizar nos remendos. O resultado visual era semelhante ao de uma manta de retahos, onde se evidenciavam várias tonalidades de azul.

Ainda miúdo, talvez com 7/8 anos lembro-me do meu pai me ter levado à Covilhã, onde ia fazer uma reparação (ir e vir no mesmo dia) e me ter mostrado uma fábrica de tecelagem.

Do que vi apenas me ficou na lembrança o barulho ensurdecedor dos teares a trabalhar e a visão de água corrente em cascata, que circulava por dentro da fábrica. O meu pai disse-me que aquela corrente de água era utilizada para gerar a electricidade que a fábrica necessitava.

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