MARX E A INTERNACIONAL: CARTA AOS INTERNACIONAIS DE BOLONHA - 4 (Continuação)
Mas, desde o Outono de 1868, os chefes, os propagadores e os agitadores, em grande parte judeus, do Partido da democracia socialista, que tinha acabado de se formar, sempre sob a inspiração de Marx, no norte da Alemanha, começaram a conquistar para o seu lado os judeus da Áustria, e juntos puseram-se a magnetizar, a fazer sermão, a enganar os operários alemães da Áustria. Eles não trabalharam em vão. Há um ou dois meses, os mesmos operários alemães de Viena, reunidos novamente numa grande assembleia popular e já organizados segundo o programa e sob a direcção dos chefes do partido da democracia socialista, traduzindo dali por diante, sob inspiração exclusivamente tudesca, o cosmopolitismo no sentido do pangermanismo, declaram-se partidários da grande pátria alemã, quer dizer, do Estado pangermânico, que se diz popular, do qual eles esperam estupidamente a emancipação do proletariado, como se um grande Estado pudesse ter outra missão que não a de subjugar o proletariado.
Examinaremos esta questão numa próxima oportunidade, caros amigos. Enquanto se espera, vós compreendereis que esta nova resolução teve como consequência natural alijar do movimento do proletariado todos os operários não alemães da Áustria.
Na Suíça, vemos hoje, sempre sob a influência directa e em nome dos princípios deste mesmo programa da democracia socialista tudesca, todos os operários dos cantões alemães, em Zurique e na Basileia sobretudo, mas também em Argóvia e em Berna, a reivindicação de quê?
Da abolição do sistema federal e da transformação da Federação suíça, garantia da liberdade suíça, numa centralização única do Estado. Sabeis o que isso significa? É o começo da absorção, da conquista da Suíça, a alemã pelo menos, pela Alemanha; mas não somente da Suíça alemã, de toda a Suíça, pois as reformas que se preparam e que se discutem agora, se elas passarem, terão inicialmente por efeito inevitável subordinar absolutamente as Suíças italianas e romanches à direcção, ao governo, e à administração exclusiva dos Suíços alemães, e mais tarde, por estes últimos, subordinar os da Prússia - e tudo isso pelo maior triunfo de todos os judeus da Alemanha e da Suíça que engordarão nessas manipulações...
Tal é o espírito do programa que os delegados do Partido da democracia socialista da Alemanha, da Áustria e da Suíça alemã, desembarcados em grande número no Congresso de Basileia, em Setembro de 1869, tentaram fazer prevalecer neste Congresso, com o apoio unânime de todos os delegados do Conselho Geral de Londres, alemães e ingleses, escolhidos com cuidado pelo próprio Marx, e todos, naturalmente, seus partidários fanáticos.
Evidentemente que se tratava de um golpe montado. Todavia, fracassou diante da oposição unânime dos delegados franceses, belgas, suíços romanches, italianos e espanhóis.
Foi um completo fiasco. Todas as proposições, tendendo a colocar o movimento socialista e revolucionário do proletariado da Europa a reboque do radicalismo burguês e do comunismo judeu – pangermânico dos alemães, foram rejeitadas Inde irae.
Desde então os congressos gerais, essas verdadeiras tribunas do proletariado do mundo civilizado, foram condenados no espírito dos mentores quer dizer, dos alemães do Conselho Geral de Londres - no espírito de Marx e de seus discípulos.
Até 1869, o papel do Conselho Geral na Internacional, tal como foi determinado pelos nossos estatutos gerais e pelas sessões dos Congressos de Genebra, de Lausanne e de Bruxelas, foi muito restringido; ele tinha apenas a missão muito modesta de não ser nada mais do que um Bureau central de correspondência e de comunicações entre os grupos nacionais dos diferentes países – e sobretudo entre os três grupos regionais: anglo-americano, alemão e latino, que tinham naturalmente pouca comunicação entre eles. Por sinal, ele não possuía nenhuma missão legislativa, nem mesmo governamental, o que quer que diga Mazzini disso. O poder legislativo, se havia poder, residia unicamente nos congressos. E mesmo as resoluções dos congressos, ainda que respeitadas como sendo a expressão dos desejos da maioria, não eram consideradas como obrigatórias, com a base real da Associação Internacional, seu pensamento, sua vida, residindo inteiramente na autonomia, na acção espontânea e na livre federação, de baixo para cima, das secções.
Isso esteve e ainda está em uso constante em todas as secções da Internacional, excepto as da Alemanha, onde hoje parece prevalecer uma disciplina totalmente bismarckiana, de tal forma que, após cada congresso, os delegados, uma vez retornados às suas respectivas secções, devem prestar contas detalhadamente a estas últimas de todas as discussões que aconteceram no congresso, explicar as razões de seus próprios votos e submeter à aceitação ou à rejeição das secções as resoluções votadas pela maioria do congresso. Resulta daí que os próprios congressos – de grande valor sob este aspecto, pois apresentavam os desejos, as aspirações, as diversas tendências dos diferentes grupos, tendiam a harmonizá-los e a unificá-los não autoritariamente, mas pelo próprio efeito deste encontro, desta fricção fraternal, anualmente renovado, – não tinham, portanto, e não devem ter força soberana, pois o efeito desta força seria a de submeter uma minoria qualquer à lei da maioria, e, na maioria das vezes, mesmo a maioria das secções a uma maioria artificial produzida pela surpresa ou pela intriga de uma minoria no seio do congresso; seria, numa palavra, a de transformar a Internacional num Estado político com a liberdade fictícia e a escravidão real da massa do proletariado.
Nós desejamos a unidade, mas a unidade real, viva, resultante da livre união das necessidades, dos interesses, das aspirações, das ideias dos indivíduos tanto quanto das associações locais e que são, por consequência, a expressão e o resultado, sempre real e sincero, do maior desenvolvimento da sua liberdade, da sua existência e acção espontânea, mas não uma unidade imposta, seja pela violência, seja por artifícios parlamentares. Numa palavra, somos francamente comunalistas e federalistas, significa dizer que nós seguimos estritamente o espírito assim como a carta dos nossos estatutos gerais, a lei constitutiva da Internacional.
É a única lei obrigatória para todas as secções, e sobre a única base desta lei todas as secções são autónomas, soberanas, ao mesmo tempo que elas estão realmente ligadas por uma solidariedade internacional não dogmática, não governamental, mas prática.
Esta solidariedade internacional prática, lei suprema e absolutamente obrigatória da internacional, pode-se resumir nestes termos:
Cada membro da Internacional: indivíduos, secções de profissão ou quaisquer outras, grupos ou federações de secções, federações locais, regionais, nacionais, são igualmente obrigadas a apoiarem-se e a socorrerem-se mutuamente, até ao limite do possível, na luta de cada um e de todos contra a exploração económica e contra a opressão política do mundo burguês.
(Continua)
Ilustração: Magón, Proudhon e Bakunine no mural "Del porfirismo a la Revolución".
quinta-feira, 15 de julho de 2010
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