Carlos Luna
Não é muito habitual, no Alentejo, o surgimento de figuras ligadas á ortodoxia católica pelo seu misticismo. E, nos poucos casos em que surgem, muitas vezes, pelo menos inicialmente, começam por estar em desacordo com as hierarquias.
Foi o caso da "Venerável Serva" Maria da Cruz, tecedeira, filha de Bento Álvares e de Isabel Rodrigues, nascida em 1585 e falecida em 1 de Janeiro de 1635. Desde muito nova era muito dada às coisas da religião, e tida por muito piedosa. Logo, as suas orações foram consideradas como capazes de produzir milagres. Segundo algumas fontes, professou em 1614. Foi ministra da Ordem Terceira de São Francisco. Muito caridosa, era idolatrda pelas gentes, não só da sua terra, Olivença, como de toda a Raia alentejana, e até da vizinha Espanha.
Tanta fama de santidade, e mesmo de milagreira, pelo carácter pouco ortodoxo e quase fanático que apresentava, levou o Bispo de Elvas a interrogá-la, disposto até a entregá-la à Inquisição, em 1627, ano em que, festivamente, Olivença recuperava a sua Igreja de Santa Maria do Castelo, totalmente renovada... talvez infelizmente à custa de um edifício original templário do século XIII.
Todavia, pelas suas palavras e pela sua atitude, Maria da Cruz convenceu o Bispo da sua imaculada catolicidade, e foi pois deixada em completa liberdade. O Bispo em questão, D. Sebastião de Matos e Noronha, dirigindo-se à multidão que aguardava Maria da Cruz, terá
dito: "Esta mulher é Santa, sem dúvida, porque tal foi a alegria que a minha alma recebeu ao falar com ela que não posso descrevê-la. E quando os efeitos são semelhantes a estes, não pode deixar de ser verdadeira a causa que os produz: este assunto é de Deus !"
Da mesma opinião foram os restantes membros do Clero e Autoridades que interrogaram Maria da Cruz.
Durante mais oito anos, até à sua morte, ninguém mais a incomodou.
Antes a sua popularidade cresceu, e engrossou a fama de Santidade. O Bispado de Elvas orgulhava-se dela. A Rua onde nasceu (Rua de Santa
Ana) passou a chamar-se Rua Madre Maria da Cruz.
O sentimento popular tocava as raias da idolatria, e a sua fama alargava-se. A sua morte, em 1635, não significou o fim da devoção.
Continuou a ser recordada, até hoje, ainda que de forma progressivamente mais vaga.
Recordá-la é não deixar cair no esquecimento uma mulher que se destacou na sua época, e que foi muito querida dos seus conterrâneos, de muitos alentejanos em geral, e de pessoas de outras regiões.
segunda-feira, 19 de julho de 2010
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