quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Destinos



António Sales

Na serra do Caramulo
há um hotel de quatro estrelas.
Tem spa, tem sauna, tem piscinas,
gente bonita a gozar a felicidade
montada sobre os ossos do sofrimento.

Na serra do Caramulo
havia um sanatório de zero estrelas.
Não tinha spa, nem sauna, nem piscinas,
mas gente escanzelada e feia
a tratar restos de tuberculosa esperança.

Escorraçados do amor
repousavam o olhar vítreo
na voluptuosidade verdejante do Vale de Besteiros.
Isolados da família escondiam a saudade
pelos corredores do sofrimento.
Mirrados nos seus quartos
cuspiam sangue vivo
invocando Deus para afugentar a Morte.
Uns foram de carreta,
com padre e com sineta.
Outros de fé na vida
tiveram feliz guarida.

Nesse espaço de sigiloso lutos,
berço de soluçadas lágrimas
e corajosa luta,ulo
onde as folhas das árvores
caíam na própria primavera,
há hoje um hotel de quatro estrelas
na serra do Caramulo.

1 comentário:

  1. Levei lá um primo, da minha idade,de carro serra acima, o irmão mais velho a guiar. Uns pavilhões, cheirava a doença, nunca apanhei turbeculose. Mas nunca me inspirou a fazer poemas. Bons poemas como este.

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