António Sales
Na serra do Caramulo
há um hotel de quatro estrelas.
Tem spa, tem sauna, tem piscinas,
gente bonita a gozar a felicidade
montada sobre os ossos do sofrimento.
Na serra do Caramulo
havia um sanatório de zero estrelas.
Não tinha spa, nem sauna, nem piscinas,
mas gente escanzelada e feia
a tratar restos de tuberculosa esperança.
Escorraçados do amor
repousavam o olhar vítreo
na voluptuosidade verdejante do Vale de Besteiros.
Isolados da família escondiam a saudade
pelos corredores do sofrimento.
Mirrados nos seus quartos
cuspiam sangue vivo
invocando Deus para afugentar a Morte.
Uns foram de carreta,
com padre e com sineta.
Outros de fé na vida
tiveram feliz guarida.
Nesse espaço de sigiloso lutos,
berço de soluçadas lágrimas
e corajosa luta,ulo
onde as folhas das árvores
caíam na própria primavera,
há hoje um hotel de quatro estrelas
na serra do Caramulo.
Levei lá um primo, da minha idade,de carro serra acima, o irmão mais velho a guiar. Uns pavilhões, cheirava a doença, nunca apanhei turbeculose. Mas nunca me inspirou a fazer poemas. Bons poemas como este.
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