quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Fèlix Cucurull (1919-1996) - Um grande escritor catalão e um amigo de Portugal

Fèlix Cucurull foi uma daquelas vozes incómodas que, ao longo de todo o consulado franquista, nunca deixou de defender a cultura catalã  e de a tentar proteger da agressiva aculturação a que a ditadura submeteu as nacionalidades integradas no espaço geográfico do estado espanhol.

Os seus livros, muitos deles publicados em Portugal, foram sempre escritos em catalão. Em todo o caso, Cucurull nunca se eximiu de falar castelhano sempre que isso facilitava o contacto e  a aproximação, porque a sua luta não era contra a cultura castelhana - era contra a repressão exercida pelo governo fascista de Franco. E a partir dos anos 60, vindo com frequência a Portugal, mercê de uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, aprendeu português. Falava e escrevia na nossa língua e era, sobretudo, um excelente tradutor de português para catalão. A ele se deve a divulgação na Catalunha de grandes escritores portugueses.

Por todos estes motivos - pela superior qualidade literária da sua obra poética, ficcionística e ensaística, pelo seu apego à causa da libertação da sua pátria e pelo amor que dedicou a Portugal, em breve inicicaremos a publicação de uma série de crónicas - Tributo a ´Fèlix Cucurull.

Deixamo-vos com este seu poema  traduzido por Stella Leonardos:

Como um dos tantos

Virei barbeado de fresco...
Não te falarei de exílios,
       nem de lutas,
           nem de fome,
               nem do destino dos homens;
só de coisas
que sei que hão de te enternecer.
Dir-te-ei: "Tenho um iate,
uma grande fábrica,
um Cadillac,
e terras e mais terras..."
Pode ser que me acredites,
porque é preciso que te enganes;
porque a toda a hora te falam de princesas;
e do filme de domingo
entretecerás um sonho
para toda a semana,

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