quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Maratona Poética - Chegam Carlos Drummond de Andrade, e o João Rui de Sousa, vêm a acompanhar o William, o Shakespeare

William Shakespeare

(Stratford on Avon 1564-1616) 






A rose by any other name would smell as sweet

(Romeo and Juliet )

Juliet:

'Tis but thy name that is my enemy;
Thou art thyself, though not a Montague.
What's Montague? it is nor hand, nor foot,
Nor arm, nor face, nor any other part
Belonging to a man. O, be some other name!

What's in a name? that which we call a rose
By any other name would smell as sweet;
So Romeo would, were he not Romeo call'd,
Retain that dear perfection which he owes

Without that title. Romeo, doff thy name,
And for that name which is no part of thee
Take all myself.

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Carlos Drummond de Andrade
(Itabira, 1902 — Rio de Janeiro, 1987)




A FLOR E A NÁUSEA

Preso à minha classe e a algumas roupas,
Vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me'?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
 nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.


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João Rui de Sousa

(Lisboa, 1928)


OFÍCIO



Conduzo estas palavras que se erguem
num alteroso mar onde o que seja
a alegria, a dor ou a raiva imiscuída
se transforma em árvores ampliadas
no arfado crescendo de uma forja,
no florescer de regras muito próprias
(às vezes descobertas, encontradas,
num rio de nudez ou no rumor
das ruas e da casa)
para o azul das massas levedadas
e para os pães de variadas formas
(e misturas, fermentos, intenções)
com que abro portas, muros e janelas
que dão para jardins que nunca acabam.


(De “Enquanto a Noite a Folhagem”).

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Quem vem a seguir? O Fernando Correia da Silva,  o Carlos Pena filho e o José Luís Peixoto. Às dez.

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