domingo, 22 de agosto de 2010

Neofrugalismo!




Luís Moreira
Os porugueses estão rendidos ao neofrugalismo», diz o Público.

O que é o neofrugalismo? Uma nova tendência musical, uma vanguarda
literária, um sistema ocidental de feng-shui?

Não: uma coisa sensata, «a tendência mundial de consumo que foi prevista em finais de 2008 num relatório do falido banco de investimento Merril Lynch».

Há males que vêm por bem. Mas há coisas que convém situar no tempo.

O «neofrugalismo» é, realmente, o modo como vivem os povos do Norte da Europa, muito longe dos padrões de consumo norte-americano e, convenhamos, português nas últimas décadas.

Ir ao restaurante uma vez por semana, ou menos; pensar bem antes de entrar numa loja de electrodomésticos, fazer contas antes de imaginar o novo computador, não acumular objectos desnecessários, jantar em casa — aquilo que o «neofrugalismo» propõ é, antes de mais, um modo de vida de país desenvolvido.

Quantos dos meus amigos suecos ou noruegueses vão jantar fora por mês? Muito,
muito menos do que os portugueses. Quantas vezes trocam de carro ao longo da vida? Muito menos do que tem sido o padrão de consumo português e infinitamente menos do que é a norma norte-americana.

Ao ler as estatísticas queixosas da indústria automóvel, por exemplo, não é possível evitar um encolher de ombros quando se lê que «este ano se venderam menos xxx carros do que no ano passado»; a doutrina do crescimento infinito, boa para excel e para gestores saídos da Procter & Gamble, tinha de ser posta em causa algum dia. Não só por causa da crise demográfica e porque os recursos do planeta são moderadamente finitos mas porque não é sensato imaginar um mundo em que o destino de todas as economias é a delapidação contínua do património familiar em bens de consumo insensatos.

A chamada mediocridade nórdica (que não é apenas assunto de poesia mas, já agora, está lá, desde o Havámal) tem a ver com isto: consumir menos, sujar pouco, contentar-se com a modéstia, produzir melhor. É um modo de vida que não pode ser
confundido apenas com o «neofrugalismo», ou seja, como uma tendência irremediável de consumo.

Menos iPods por ano, menos carros, menos desperdício, saber cozinhar, aproveitar o tempo para ler, menos idas ao cinema, etc.; ou seja, estar menos dependente, viver de acordo com as possibilidades.

Francisco José Viegas

PS: Com os agradecimentos devidos!



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3 comentários:

  1. Amigo Luís. No mês de Julho, eu e uns familiares fizemos uma viagem de carro pela França, e ficámos admirados com o parque automóvel dos franceses. Muito inferior, em qualidade, ao nosso. Carros pequenos utilitários, sendo raro ver-se uma "bomba". Ali pelo centro da França vimos passar por nós um mercedes topo de gama. Fartámo-nos de rir quando verificámos que a matrícula era portuguesa. Nas redondezas de La Rochelle, uma outra "bomba" passou por nós, e lá de dentro, com o vidro aberto, sai uma voz estridente "vivó puârto".

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  2. É verdade que nós estamos muito mal habituados, não gastamos dinheiro no médico nem em cultura mas temos uma televisão última gama e um carro cinco estrelas. Há muito por onde poupar.Restaurantes cheios, Algarve cheio, ( eu vou à China em Outubro, e disseram-e na agência de viagens que vão 3 aviões -3, cheios ).Amigo Adão, esta é a sociedade da irracionalidade, do individualismo, do desperdício.E não há desculpas, já sabemos no que vai dar.

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  3. Tudo isso tem de ser pago: a pronto, a prestações ou por penhoras. Em termos colectivos pagaremos todos quando dermos o tombo mestre. o meu raciocínio foi sempre simples. Se ia para comprar um par de sapatos perguntava-me: os que tens não te chegam para os pés? São incómodos? estão rotos? Nããoooo. e desistia de comprar. Assim com os televisores, o computador, a roupa, o pópó e por aí fora. A conclusão foi rápida mas tardia: salvo doenças, educação, cultura, o ser humano precisa de pouco para viver. Se tiver saúde e for bronco, então ainda menos.

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