quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Novas Viagens na Minha Terra





Manuela Degerine

Capítulo LXX

Décima oitava etapa: de Barcelos a Ponte de Lima (continuação III)

Passamos por casas, vinhas e hortas, ouvimos berrar ovelhas, vemos, de vez em quando, uma vedação com lajes verticais. A água intensifica as cores, dá às pedras um brilho luzidio, faz inchar o musgo, o sedum e todas as plantas que crescem em cima dos muros. Os campos são na maioria verdes, não raro amarelos, uma ou outra vez castanhos: algo semeado e não nascido. Sucedem-se os rectângulos com batatas, com favas, com ervilhas, com couves... Muitos lugares começam a cobrir-se com vinha suspensa em postes de granito.

Enganamo-nos no caminho, uma mulher corre pela rua abaixo, para se abrigar deste derrame atmosférico – avisa-nos. Não manifesta qualquer estranheza, sabe por que razão ali passamos.

Berro na direcção das nuvens.

- Está o caldo entornado!

Chega-me a réplica redobradamente líquida.

Sucedem-se as igrejas, as capelas e os calvários. A certa altura, entre uma igreja e uma capela, o caminho encontra-se, na faixa central, coberto de pétalas, formando desenhos diversamente coloridos: houve ontem uma festa religiosa. A procissão caminhou, de um e de outro lado, sem pisar as pétalas que, com esta humidade, se mantêm viçosas e intactas.

Há paredes com fetos, há muros magníficos, feitos de enormes blocos de granito, um lego de gigantes, há bancos e tanques de pedra, há pátios imensos, granjas com espigueiros, vastas casas de quinta... Apetece parar para encher os olhos com tanta beleza. Que pena estar a chover...

Quase me felicito por, neste transe tão húmido, não caminhar com Maria – que apodreceria a caminhada de mau-humor. Já bastam as reais dificuldades deste chapinhar tão prolongado. Estando tudo enlameado, não podemos, por exemplo, sentar-nos para descansar mas, tanto Sérgio como eu, tentamos suavizar a situação. Brincamos:

- Vejo uma aberta lá longe...

E eu, de vez em quando, repito esta evidência, que até, como ciclista, algumas vezes lembro:

- A chuva não é mais do que água!

Acabamos por nos rir. As nossas figuras, ele com a bossa da mochila, eu coberta com sacos de plástico, não deixam de ser cómicas.

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