quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O Segredo dos seus Olhos, de Juan José Campanella

João Machado

Fui ver há dias este filme argentino, estreado no seu país de origem em Agosto de 2009. Em Portugal estreou em Maio de 2010. Foi realizado por Juan José Campanella, realizador, argumentista e produtor (também foi actor) argentino de cinema e televisão, com grande experiência de trabalho, no seu país e nos Estados Unidos (chegou a trabalhar na série Dr. House). O argumento baseia-se na novela La Pregunta de sus Ojos, escrita em 2005, por Eduardo Sacheri. O filme venceu o Óscar para o melhor filme estrangeiro em 2010. O Internet Movie Database informa que O Segredo dos seus Olhos recebeu até à data 34 prémios e 19 nomeações.

A história passa-se a dois tempos, na Argentina actual, e de há vinte e cinco atrás. O personagem principal trabalha na polícia, e recebe a missão de investigar um crime horrível, de assassinato e violação. Está apaixonado pela sua chefe directa, juíza de formação, e que é uma senhora da alta sociedade. O enredo acompanha todo o processo de investigação, detendo-se nos obstáculos com que se defrontam os polícias no seu trabalho, e tem como pano de fundo a vida política argentina, com a tremenda repressão levada a cabo pela ditadura, e que acaba por ter influência directa no caso. Aborda aspectos muito interessantes, como a enorme influência do futebol na vida do país, e como a repressão atingia as pessoas de diferentes maneiras, conforme o estrato social a que pertenciam.



O desenrolar da história começa no tempo actual, com o personagem central a visitar a sua velha paixão e a informá-la de que pretende escrever um romance centrado no caso que ambos investigaram, com um êxito incompleto. E ele ainda vai descobrir a ponta final que faltava. Os sucessivos avanços e recuos no tempo estão muito bem interligados, e o filme está muito fluente, prendendo o espectador com grande eficácia. É uma história policial, que tem todos os ingredientes tradicionais do género, muito bem introduzidos no enredo. Mas não perde tempo, nem massacra o espectador, e apesar das cenas de grande violência que inclui, não procede à maneira dos filmes dantes chamados da classe B, pois não recorre a cenas de grande efeito visual, como grandes perseguições automobilísticas, cenas de pancadaria em que se partem todos os móveis ou os intervenientes saem pelos vidros das janelas e outras situações semelhantes. Num estilo contido, Campanella conseguiu apresentar um excelente filme, muito interessante, e que a nós, portugueses, desperta mesmo algumas reminiscências. O trabalho dos actores (Ricardo Darín, Soledad Villamil, Pablo Rago, são os principais) foi excelente, e parte dos prémios foi para eles. A parte técnica, tanto quanto consigo avaliar, também muito boa.
Vale a pena ver.


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