sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Opinião. Incêndios

Carlos Mesquita

Todos sabem as origens dos incêndios, descontando as causas naturais como os relâmpagos, a culpa é sempre das pessoas e do seu comportamento negligente ou criminoso.

Citando novamente o meteorologista Costa Alves ele dizia que os anos de mais incêndios correspondem a vagas de calor, 1991 e 1995 e nesta década 2003 e 2004. É compreensível. Em 2003 a vaga de calor durou 16 dias e foi a maior registada desde sempre. Não é por acaso que o ministro da Administração Interna compara os incêndios de agora com os de 2003, essa manobra era desnecessária, é reconhecido que os meios actuam hoje com mais eficácia. Mas essa eficiência não foi acompanhada pelas medidas mais difíceis de ordenamento do território e gestão das zonas florestais, nem se conseguiu consciencializar os cidadãos dos comportamentos de risco, ou, o mais importante em minha opinião, manter o território com pessoas e pacificar os campos. Desde que Álvaro Amaro (agora autarca cheio de queixas) tirou os terrenos de caça livre que eram de todos, para os dar a quem tem dinheiro para plantar tabuletas nos terrenos alheios, abriram-se litígios de caça que todos os anos incendeiam vastos hectares de terrenos.

As desavenças entre as populações que vivem nos Parques Naturais e os responsáveis pela “conservação da natureza”, que mandam nos parques, também não ajudam. António José Seguro em visita ao Parque Natural da Peneda Gerês (PNPG), prometeu reunir os deputados PS de Braga com a ministra do Ambiente para entregar propostas que levem a “um maior envolvimento das autarquias, das populações, e das forças vivas locais na gestão da estrutura”. Diz ele que “sem o envolvimento das pessoas que vivem da economia local ou que vivem naquele local, é muito difícil que uma estratégia de prevenção tenha êxito”. Parece que esse bom senso só não é compreendido pelo Instituto de Conservação da Natureza, que tutela o PNPG. Os pastores são outro problema, alguns são encontrados a pegar fogos para renovarem as pastagens, situação que podia ser resolvida com queima controlada assistida por bombeiros; mas também aí falta informação, há confusão com autorizações e proibições nacionais e camarárias, com licenças exigidas por posturas municipais, dependentes da audição dos bombeiros e outros condicionalismos. Uma barafunda incompreensível para quem vive longe da burocracia das cidades. A solução seria ir junto dos pastores, explicar o que devem e não podem fazer, mas isso não é tarefa para quem entende que todos os animais (incluindo o Homem) que não estejam na lista de espécies protegidas, são dispensáveis na natureza. O certo é que a gestão actual das parcelas do território tutelado pelo Estado não garante a conservação das reservas biogenéticas da fauna e flora.

A apregoada limpeza das matas que nem o Estado faz nas que lhe compete, é incomportável para a bolsa da maioria dos pequenos proprietários, entretanto afastados da agricultura. O abandono dos campos e a liquidação da actividade agrícola, não será nunca substituído por legiões de “limpa matas”, é impraticável e impossível financeiramente. Tem por isso de se repensar o Portugal país florestal, se são esperadas mais vagas de calor, e há gente da ciência que diz ser o futuro, ou se volta a ocupar o território, gastando nisso o que se desperdiça no combate inglório, ou tem de se vender os submarinos para comprar material para os bombeiros. Até lá podemos ir fazendo o novo desporto de dar caça aos maluquinhos, pirómanos de toda a espécie; lembro-me de um vigilante da prevenção florestal da Serra da Estrela, que foi detido há dois anos por atear fogos para depois lançar o alerta. Medidas repressivas já se viu, não dão resultado.

Limpar de materiais combustíveis junto às habitações, qualquer um pode fazer, cuidar de não fazer queimadas sem condições também, mas se a frequência das ondas de calor se vão intensificar tudo tem de ser reconsiderado, da prevenção ao combate, da gestão florestal ao tipo de floresta.

(In Semanário Transmontano)

1 comentário:

  1. Prioridades ao contrário.Em Proença-a-Nova já há uma fábrica de biomassa com os proprietários a fazerem parte do negócio. Os terrenos que arderam vão tornar a ficar cheios de mata sem qualquer preparação, para arderem daqui a 3 anos...

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