domingo, 8 de agosto de 2010

Orlando da Costa no Terreiro da lusofonia


Orlando da Costa (1929-2006) foi um poeta verdadeiramente  lusófono. Nascido em Moçambique numa família goesa e, como tal, criado em Margão, veio para Lisboa para a Universidade e, com três nacionalidades possíveis, optou pela portuguesa. E foi um português de eleição, um homem que lutou contra a ditadura e sempre se mostrou consequente com os seus princípios. Um grande português e um grande escritor.

Orlando da Costa, nasceu em Lourenço Marques, actual Maputo, em 1929, numa família goesa. Foi criado em Margão, vindo para Lisboa, com apenas 18 anos, em cuja Faculdade de Letras se licenciou em Ciências Histórico-Filosóficas. Ficcionista, dramaturgo e poeta, publicou uma dezena de livros, dos quais se destacam os romances «O Signo da Ira» (1961), «Podem Chamar-me Eurídice» (1964), «Os Netos de Norton» (1994) e «O Último Olhar de Manú Miranda» (2000). O poema escolhido foi publicado na antologia «Poemabril» (1984) e foi musicado pelo maestro Fernando Lopes-Graça:



Canto Civil – 1

            Este é o meu canto civil

            canto cívico graduado

            desde um tempo antigo que vivi

            entre poemas de aço camuflados e algemas de silêncio

            Esse era o tempo do assalto às casernas

            mas já então eu escrevia o que devia:

            a cartilha da guerrilha do amor e da paz

            para ser ensinada à luz das lanternas

            nas escolas nas igrejas na parada dos quartéis


            Este é o meu canto civil

            canto cívico desfardado

            escrito a vinte e oito de Abril

            do ano passado à noite

            de punho cerrado com alegria e sem espanto

            canto para ser cantado de dia

            por todos por muitos por mim ou por ninguém:
      

            Soldado raso

            ao cimo da calçada

            em guarda

            de flor e farda

            a flor que te damos

            é pão da madrugada

            É pão amassado

            sem liberdade

            é gesto de guerra

            em nome da paz.

            É flor de canção

            em terra mar e ar

            rubra flor popular

            num só cano de espingarda


            Soldado raso

            em sentido na memória

            lembra-te de novo e sempre

            a flor que te damos

            é da terra é do povo

            é pão da madrugada.


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