Orlando da Costa (1929-2006) foi um poeta verdadeiramente lusófono. Nascido em Moçambique numa família goesa e, como tal, criado em Margão, veio para Lisboa para a Universidade e, com três nacionalidades possíveis, optou pela portuguesa. E foi um português de eleição, um homem que lutou contra a ditadura e sempre se mostrou consequente com os seus princípios. Um grande português e um grande escritor.
Orlando da Costa, nasceu em Lourenço Marques, actual Maputo, em 1929, numa família goesa. Foi criado em Margão, vindo para Lisboa, com apenas 18 anos, em cuja Faculdade de Letras se licenciou em Ciências Histórico-Filosóficas. Ficcionista, dramaturgo e poeta, publicou uma dezena de livros, dos quais se destacam os romances «O Signo da Ira» (1961), «Podem Chamar-me Eurídice» (1964), «Os Netos de Norton» (1994) e «O Último Olhar de Manú Miranda» (2000). O poema escolhido foi publicado na antologia «Poemabril» (1984) e foi musicado pelo maestro Fernando Lopes-Graça:
Canto Civil – 1
Este é o meu canto civil
canto cívico graduado
desde um tempo antigo que vivi
entre poemas de aço camuflados e algemas de silêncio
Esse era o tempo do assalto às casernas
mas já então eu escrevia o que devia:
a cartilha da guerrilha do amor e da paz
para ser ensinada à luz das lanternas
nas escolas nas igrejas na parada dos quartéis
Este é o meu canto civil
canto cívico desfardado
escrito a vinte e oito de Abril
do ano passado à noite
de punho cerrado com alegria e sem espanto
canto para ser cantado de dia
por todos por muitos por mim ou por ninguém:
Soldado raso
ao cimo da calçada
em guarda
de flor e farda
a flor que te damos
é pão da madrugada
É pão amassado
sem liberdade
é gesto de guerra
em nome da paz.
É flor de canção
em terra mar e ar
rubra flor popular
num só cano de espingarda
Soldado raso
em sentido na memória
lembra-te de novo e sempre
a flor que te damos
é da terra é do povo
é pão da madrugada.
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