terça-feira, 17 de agosto de 2010

Republica nos livros de ontem nos livros de hoje, 103 e 104

Memórias de Guerra Junqueiro

Lopes D’Oliveira

Lisboa, 1938

A certa altura, o Poeta pegou de um manuscrito, de sua letra, e sentou-se num canapé, que, com algumas, poucas, cadeiras e a mesa, constituía todo o mobiliário.

E começou a ler a Oração à Luz, ainda então inédita.

A voz de Junqueiro, de timbre metálico, quase forte no habitual, era um pouco velada, e, com a luneta no nariz, um pouco nasalada; sempre doce e harmoniosa quando lia ou perorava, a emoção dava-lhe agora uma vibração estranha.

Tínhamos ficado de pé...

Ele ia recitando o intróito, no deslumbramento magnífico do hino ao sol...

Faúlhas de luz divina! E um grande clarão passou:

Homem! Quando a alvorada alumie o horizonte, Ergue-te em pé, ergue essa fronte!



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Memórias do Capitão

João Sarmento Pimentel


Editorial Inova, 1974

Que diremos que estas «Memórias» são? História ou literatura? Ficção ou documento? Sonho ou realidade? Reminiscência ou fantasia? Colocar nestes termos a questão é, desde já, prevenir perplexidades em que. perante elas, ainda que seduzidos pelo fascínio, alguns leitores se debaterão.

Porque é tão raro que alguém saiba transformar em arte a História de que participou. Tão raro que, sabendo-o, do mesmo passo insufle as ressonâncias da vida aos factos soltos de um passado extinto. Tão raro que o fervor, o entusiasmo e a ternura sobrevivam lúcidas e, todavia, capazes de rodear de sonho os tempos idos, para melhor reviverem-nos. Tão raro que as recordações, longe de secarem-se, palpitem de uma vida transbordante que as faz mais vivas do que terão sido.

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