sábado, 4 de setembro de 2010

A comunicação social e a democracia

João Machado


É comum ouvirmos dizer que hoje em dia existe liberdade de expressão. Contudo essa afirmação não resiste a uma observação mais aprofundada. A maior parte dos cidadãos dificilmente consegue transmitir qualquer opinião mais significativa através da chamada comunicação social, mesmo quando disso sente necessidade. Muitas forças políticas e sociais também encontram muitos obstáculos para conseguirem fazer chegar ao público uma mensagem mais elaborada. Quando tentam fazê-lo vêem frequentemente deturpadas as imagens e ideias que pretendem dar a conhecer.

Também se ouve com frequência gabar a sociedade em que vivemos e o nosso sistema político por permitirem o convívio de diferentes ideias e de modos de vida. Novamente, temos que constatar que esta segunda afirmação não contém muito de verdade. Existem, é verdade, diferentes maneiras de ser e de pensar, mas os valores dominantes colocam-nas numa escala pré-determinada, que influencia decisivamente a opinião da maioria.



A comunicação social é controlada pelo Estado e pelos grandes grupos económicos. Os pequenos jornais, as rádios locais têm públicos restritos e debatem-se com cruéis limitações que dificilmente ultrapassam, apesar do enorme valor de muitos dos seus responsáveis.

O escritor e activista britânico George Monbiot escreveu a semana passada, na coluna que mantém no Guardian, que a mentira mais perniciosa em política é que a imprensa é uma força democratizante. Alguns afirmarão que constituirá uma incongruência escrever esta frase num jornal de grande tiragem. Pessoalmente, penso que Monbiot dificilmente conseguiria publicar a sua coluna noutro jornal que não o Guardian, e nunca na maioria dos países do mundo. Mas também penso que culpar a imprensa e a comunicação social em geral pelas limitações à democracia é um pouco como matar o mensageiro que nos traz uma má notícia (o problema muitas vezes é que nem consegue transmiti-la). O problema está obviamente nas pressões e limitações que incidem sobre toda a comunicação social. No chamado mundo ocidental são sobretudo (não só) de carácter económico. As indignas manipulações que se constatam são um reflexo deste facto. Foi outro britânico, Lord Acton, que disse abertamente aquilo que todos instintivamente sabemos, que o poder corrompe. Não é preciso contar o Citizen Kane para concluirmos que o poder da comunicação social não é excepção.

O movimento dos blogues tem constituído uma maneira de contornar aquelas pressões e limitações. Em muitos lados do mundo é uma maneira razoavelmente eficaz de fazer conhecer factos e ideias, em alternativa à comunicação social tradicional. O seu alcance depende obviamente de muitos factores, como por exemplo a disseminação da internet. Mas o fundamental é contribuir para contrariar o crescimento do pensamento único, cada vez mais forte nas últimas décadas, à sombra de pretensas políticas realistas, de apregoados apaziguamentos ideológicos, que apenas servem para camuflar pretensões de afirmação e de eternização do poder que nada têm de democráticos, nem têm a ver com as liberdades ou os direitos fundamentais.
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Ouçam e vejam, de novo, esta troca de insultos, em directo, na TVI:
O bastonário da ordem dos advogados Marinho Pinto acusa Manuela Moura Guedes de ser uma péssima jornalista.


5 comentários:

  1. Todos subscrevemos, meu caro, mas mesmo assim, quando falta, faz muita falta.

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  2. Faz tanta falta como a fome.

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  3. faz falta e não é pouca. Com todos os defeitos não há melhor.

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  4. Meus caros amigos, perdoem a minha pergunta. A que pontos se referem?

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  5. Todos sabem que a liberdade é a de optar, essa é que é a garantia, e depois haver tribunais a funcionar.Infelizmente não há, como tambem não há ninguem isento.Mas é claro que não me estou a referir à mentira pura e simples, que tambem há e muito.

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