quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Criança - uma obra em aberto

O BEBÉ NA MENTE DE SUA MÃE *

Clara Castilho

O bebé cresce no ventre de sua mãe. Mas também na mente de sua mãe. Ou melhor: precisa de existir na mente de sua mãe.

Aqueles que não tiveram essa vivência partem para a vida com uma desvantagem em relação aos outros. Situação difícil de “reparar”.

O bebé necessita de ser desejado. E se não planeado, de ser aceite com felicidade. Necessita de ir crescendo no útero num diálogo permanente com a mãe, que o imagina, que faz projectos, se preocupa com as consequências das suas atitudes no desenvolvimento do novo ser.

O bebé ainda não tem palavras. Só mais tarde, a mãe e os outros envolventes irão dar nome a sensações, integrando-o numa comunidade, suma sociedade com determinadas características.

A acompanhá-lo toda a gestação, o bater do coração de sua mãe, com ritmos diferentes – Pum, pum, pum. Pum, pum, pum…

Mas ele sabe (ele sente) quando a mãe está calma e serena e também se espraia feliz no líquido amniótico – Pum…Pum…Pum…

Ele sabe (sente) que ela está feliz quando dá gargalhadas, pelo som que lhe chega e pelos movimentos do diafragma – Pum! Pum! Pum!

Ele sabe (sente) quando a mãe tem fome pois também ele necessita de energia estimulante – Pum? Pum? Pum?

Ele sabe (sente) se ela está assustada – o coração bate mais depressa e níveis mais elevados de cortisol são lançados no sangue que é partilhado pelos dois – Pum-pum!! Pum-pum!! Pum-pum!!

Se o bebé estiver na cabeça de sua mãe, ela irá ter em atenção todos estes factos, porá a mão na barriga, sorrindo e pensará – “deixa-me ter cuidado, ele vai sentir tudo!” Terá atenção aos ritmos sono/vigília, aos ruídos violentos ou música calma, não fumará nem beberá álcool…

Depois de nascer, ele passa a estar sozinho no mundo. Se lhe forem dadas todas as condições para bem se desenvolver, terá presente alguém quando necessita, aprenderá a estar sozinho, a construir a sua individualidade. O “pum,pum,pum” do coração da mãe poderá encontrá-lo nos ritmos da música, no dos movimentos corporais. Quem sabe, talvez descubra o bater do seu próprio coração e o transforme em algo de diferente e inovador!

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*Reflexões a propósito de um espectáculo, dia 12 de Setembro, em Oeiras, pelos Tambores Japoneses Taiko, em quer se comemorava os 150 anos do Tratado de Paz , Amizade e Comércio entre o Japão e Portugal.

6 comentários:

  1. Clara, para dizer o que eu gostava sobre o teu texto, tinha que me revelar muito e eu não quero. Mas tu percebes, a gente entende-se.

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  2. Bonito texto Clara. Ao ler, tive a sensação de molhar as mãos na cristalina fonte da beira do rio da mnha infância.

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  3. Augusta: este texto é a prova do que escreveste num comentário sobre as alterações glandulares, passarmos a pensar com o Estrolábio lá num cantinho do cérebro... temos que chamar o António Damásio para nos explicar este fenómeno!

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  4. Muito lindo! ( lindo, é mais lindo que belo,bom,bonito...)tive uma experiência fantástica com a minha neta que tem 2 meses, a relação que ela tem com a mãe, com 2kgs e 200grs, quando nasceu, faz "boquinhas" à mãe, mostra-se, agita-se, sabe que está ao colo da mãe.O meu filho pega-lhe e ela vai cheirar o pescoço dele e só depois se acalma, virando a cara para o outro lado para dormir. Sinto-me feliz desde que ela nasceu, e ela ainda não sabe.

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  5. Luis, goze bem estes momentos, e os pais também! É que gozem usufruem desta época, mas ela, a criança, está a ganahr bases para crescer de uma forma equilibrada! - o que é o mais importante...

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