segunda-feira, 20 de setembro de 2010

É a crise, estúpido!

Pedro Godinho


Pedro (educado): Bom dia, Primeiro.

José (divertido): Bom dia, Segundo. Ah, ah.

Pedro (amuado): Também não é preciso ser assim, vim para ajudar…

José (recordado): Mas a bruxa foi sempre só ataques pessoais, pá…

Pedro (seguro): É o que estou a mudar, assim não íamos lá e o pessoal está desejoso de voltar a fazer parte dos donos da bola.

José (estadista): O que é preciso é que vocês não se ponham ao lado dos outros e negativos contra tudo o que eu faço. Temos de cumprir com o PEC.

Pedro (solícito): Nós também queremos PECar… Precisamos é duma oportunidade de cooperação estratégica e a bem do país, claro.

José (acolhedor): Deixem então de ser um entrave às medidas que o país precisa… Agora é possível explicar tudo dizendo que é a crise e exigência do PEC.

Pedro (retraído): Mas o José contradiz-se ao insistir em avançar com os grandes investimentos para os quais não há dinheiro.

José (superior): Eh pá, não podemos parar tudo e há compromissos a respeitar. Fala com os teus autarcas que eles explicam... As máquinas precisam de óleo!

Pedro (aplicado): Vou ver com os meus conselheiros mas há coisas que não podemos deixar de criticar, para continuar a ter mão no clube.

José (agradado): É a crise… Porreiro, pá.

7 comentários:

  1. Que forma de sintetizar a situação política!

    Tens é que introduzir mais uns nomezitos...

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  2. Só fiquei com uma dúvida: esse Pedro és tu? É que me lembro de, há muitos anos, ouvir o Leça dizer-te "Quando chegares à minha idade, se calhar, já és social-democrata" :)

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  3. Querida Augusta,

    Apesar do nome o PSD não é social-democrata.
    É-o menos ainda o Passos Coelho (Pedro).
    Também não creio que o seja o Sócrates (José).

    O Leça é um visionário.
    Nalgumas coisas tem razão antes do tempo.
    Não me lembro dele me ter dito o que citas, mas nessa não acertou.
    Também ainda não cheguei à idade dele; ao mesmo tempo que me vou chegando vai ele também avançando.

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  4. Lembro-me de o Leça numa das nossas reuniões te ter dito isso, respondendo a uma intervenção tua. Não estavas de acordo com ele. Mas, eu que tantas vezes discordo dele, quero prestar a minha homenagem a um homem que defende com uma convicção absoluta as suas ideias e que se está marimbando para o politicamente correcto. As suas ideias, avançadas no tempo, são dificilmente aplicáveis na prática - é um visionário, como dizes. Mas é um visionário de uma grande coerência e de uma grande integridade - defende aquilo em que acredita, sem concessões, sem transigências e sem se preocupar com consensos (que só estabelece consigo mesmo). Como podemos não admirar uma pessoa assim?

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  5. Pedrinho (deixa-me chamar-te assim),lá esperto és tu: também os teus filhos nunca te irão apanhar :) Pois é, esses que referes no conto nem se sabe bem o que é que são nem sequer já me interessa classificá-los. Quanto ao nosso querido amigo Leça, apesar de se zangar sempre connosco quando não apadrinhamos a 100% as ideias dele, será sempre uma das pessoas de raciocínio mais brilhante que conheço. Quando o oiço falar, vejo-lhe a inteligência a fluir. E o mesmo com o Rui. Que é feito do Rui Oliveira? Outro dos nossos brilhantes amigos.

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  6. Usei visionário estritamente no sentido de pessoa de grande visão.
    Tenho pelo Leça uma admiração infinita, pelo seu raciocínio e coerência claro mas também como amigo que tanto faz por quem tem amizade.
    Um homem ímpar.
    Com quem tanto continuo a aprender.

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  7. Uma das grandes qualidades do Leça da Veiga é dizer sempre o que pensa. já aqui contei a saída dele numa reunião clandestina (em 1973), onde, referindo-se ás reuniões da CDE, manipuladas pelo PC e voltadas para o recenseamento elitoral, disse que para perdermos tempo com aquelas inutilidades, melhor seria irmos para a União Nacional - «pelo menos tem ar condicionado», terminou, aludindo ao calor sufocante que se sentia na sala onde reuníamos. Outra, lançou-a, já depois de Abril, numa reunião com ambientalistas que preconizavam qualquer acção em defesa das baleias, o nosso Leça, com aquele ar calmo de quem só diz evidências, lança esta: «As baleias extinguirem-se é uma coisa natural e inevitável. As espécies extinguem-se. Se assim não fosse, já viram o que era entrar por aqui dentro um dinossáurio?». Seguiu-se um silêncio incómodo e algumas gargalhadas dos poucos que, ecologistas ou não, tinham sentido de humor.

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