Augusta Clara de Matos
Tínhamos combinado ir ver as gaivotas. Contar a vida já meio contada.
Era uma relação meio a caminho.. Uma amizade meio começada.
Quem sabe porque não veio?
Estacionei o carro e, enquanto esperava, olhei o rio, um prazer que busco especialmente nas tardes de Inverno.
O movimento era o habitual: um navio de cruzeiros, um porta-contentores, dois barcos à vela, a lancha dos pilotos da barra cumprindo o protocolo e a delicadeza do adeus a quem parte.
Um entardecer de brisa terna.
Um homem passou à beira da água. Foi andando até lá ao fundo e voltou. E voltou a ir e tornou a voltar.
Nessa altura despertou-me a atenção. Mas não era ele, quem eu esperava.
Parecia desesperado e eu pensei: “Espero que não se atire ao rio”.
O tempo passou e não veio. Até hoje, não sei porquê.
Quem sabe se o homem do andar alucinado também esperava alguém que não chegou.
Um enxame de japoneses tirava fotografias de todos os quadrantes.
O homem alucinado foi-se embora.
E, nesse dia, as gaivotas nem sequer apareceram.
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Obrigada Augusta. Muito obrigada.
ResponderEliminarTive o corpo coberto de medo, suor que não se disfarça. Prometemos a vida, metade cumprida. Resta outro tanto de medo vivida. Pedaço de mim perdida no Tejo. Resgatados dois homens do rio, um meio morto, outro ainda vivo. Na face alheia o eterno medo.
ResponderEliminar- Compras-me o super-hommem, mamã? pedia a criança na beira do rio.
Para ti, Augusta que escreves tão bem!Tenho um vício tremendo: mal leio um texto assim, o coração salta e pede outro texto. Feito vampira alimento-me do texto alheio.
Beijinho
Ethel
Belo texto Augusta. Esperamos sempre alguém...que não veio
ResponderEliminarEla disse que vinha
no sábado às três da tarde
mas não veio
nem às três nem às cinco nem às oito.
Veio apenas a neblina densa
cobrindo a cidade e a janela
de onde se via a rua…
e ela
...se viesse.
Veio apenas a noite escura
caindo sobre a porta
por onde ela entrava…
...se viesse.
Veio apenas a solidão
e a mesa vazia
e o prato sem nada
e o copo sem vinho
e a cama fria.
Mentirosos prometemos outro encontro.
ResponderEliminarAs noites são frias, a mesa vazia, o copo sem vinho, meu corpo sozinho.
Suada me toco, procuro teu pouso em mim de novo.
Nem sei que vos diga. Ter comentários como os vossos é um privilégio tão grande que toca as minhas cordas mais finas. Um grande beijo aos dois pelo que me deram hoje.
ResponderEliminarE vou guardar os vossos presentes num lugar especial.
ResponderEliminarRoubo o beijo do Adão e fico com os dois, com o beijo que é o teu texto fico com três. Mas se o Adão que poeta tão bem insistir devolvo o primeiro e te beijo de novo:)
ResponderEliminarLinda pirueta :) Obrigada
ResponderEliminarOra essa, roubar o que é meu! A menina devia dizer: junto ao beijo do adão mais um que é meu.
ResponderEliminarJá estou a ficar um bocado baralhada. Espliquem lá quantos beijos é que andam por aqui à solta e em que direcções :-))))
ResponderEliminarExpliquem, com x.
ResponderEliminarBeijamos todos num vaivém em todas as direcções, sem nenhum perigo pelo caminho...
ResponderEliminarNão era minha intenção que este texto desse origem a um a orgia :-))))))))
ResponderEliminarEthel, não leves a mal que eu gosto de brincar.
ResponderEliminaroH Augusta! Eu adoro a brincadeira e sou muito provocadora. Gostei da orgia de beijos!
ResponderEliminarMas eu não brinco, eu é a sério!
ResponderEliminarfaltava o poeta! coloca-nos na ordem. um beijo por cada poema
ResponderEliminarPoetas, melhor, almas de poetas, faltei aqui umas horas e isto descambou (chegou o chato de serviço)...Já agora um beijo meu, ora essa...
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