quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Maratona Poética - Abu Tamman conduz Adília Lopes, Manuel Maria, Florbela Espanca (com o Luís Represas)

Abu Tammam
(actual Síria,,788-845)


A POESIA

A glória sem a poesia é uma terra vazia, sem referências. São as palavras dos poetas que cobrem a seu talante de alegria ou de vergonha o rosto dos homens.

Transformam a insensatez em sabedoria e julgam, de acordo com a sua sentença, o que é injustiça ou opressão.







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Manuel Maria

(Outeiro de Rei, 1929 — Corunha,  2004)

A PALAVRA

Nós, de verdade, unicamente temos

a palavra. Só a palavra verdadeira

pode traduzir a fecha

e insondável soidade do nosso ser.

Só a palavra. A própria.

A que pertence à nossa língua.

A que amamos. A que usa,

conhece e reconhece a nossa gente.

Sem a palavra seria a pobreza,

a miséria total, a impotência

a escuridade e o nom ser.

Mas hai quem manipula, força,

retorce, desfai e prostitui

o autêntico senso da palavra.

Hai quem mente. E ainda hai

o frio, feroz assassino da palavra".

(A Luz Ressuscitada_. Corunha: Associaçom Galega da Língua. Carta-Prefácio e edição de António Gil)
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Adília Lopes
(Lisboa, 1960)


 ARTE POÉTICA


Escrever um poema
é como apanhar um peixe
com as mãos
nunca pesquei assim um peixe
mas posso falar assim
sei que nem tudo o que vem às mãos
é peixe
o peixe debate-se
tenta escapar-se
escapa-se
eu persisto
luto corpo a corpo
com o peixe
ou morremos os dois
ou nos salvamos os dois
tenho de estar atenta
tenho medo de não chegar ao fim
é uma questão de vida ou de morte
quando chego ao fim
descubro que precisei de apanhar o peixe
para me livrar do peixe
livro-me do peixe com o alívio
que não sei dizer

(Um jogo bastante perigoso. Lisboa:, 1985).


Florbela Espanca


SER POETA


Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

(«Charneca em Flor», in «Poesia Completa»)

Luís Represas em espectáculo em 1988 no Campo Pequeno, canta SER POETA:



Às quatro,  antecedidos do texto de Horácio, vêm os poemas de Nuno Júdice, Salvador Espriu e Jorge Luís Borges.

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