quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Maratona Poética - Alberto Caeiro e Bernardo Marques



Alberto Caeiro



E há poetas que são artistas

E trabalham nos seus versos

Como um carpinteiro nas tábuas!...

Que triste não saber florir!

Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói um muro

E ver se está bem, e tirar se não está!...

Quando a única casa artística é a Terra toda

Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma.

Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem respira.

E olho para as flores e sorrio...

Não sei se elas me compreendem

Nem se eu as compreendo a elas,

Mas sei que a verdade está nelas e em mim

E na nossa comum divindade

De nos deixarmos ir e viver pela Terra

E levar ao colo pelas Estações contentes

E deixar que o vento cante para adormecermos

E não termos sonhos no nosso sono.






E terminamos como começámos - Autopsicografia, agora dito pelo grande João Villaret. E despedimo-nos até à próxima iniciativa. Queremos que a última palavra seja a de um grande poeta e que seja a palavra coração.

4 comentários:

  1. Parabéns, Carlos. Um grande abraço. João

    ResponderEliminar
  2. Obrigada, Carlos! Obrigada, Adão - os teus quadros são belíssimos. Ficaremos com saudades destas 24 horas magníficas.

    ResponderEliminar
  3. Aproveito a embalagem deste notável esforço, para render homenagem a um "ausente" (creio - ainda não consegui correr a maratona toda - falta de treino...): Raul Solnado.
    A melhor leitura que já ouvi (e vi...) do poema "Liberdade", de Pessoa, é a de Solnado.
    Infelizmente, só tomei conhecimento dessa leitura - verdadeiramente genial - no dia da sua morte, no decurso das costumeiras evocações televisivas. Fazia parte de um pequeno programa que, durante algum tempo, foi transmitido, diariamente, a seguir ao Telejornal e que eu não tinha por hábito seguir, porque não passava, globalmente, de uma má ideia, ainda que bem-intencionada e servida por uma realização que cumpria os mínimos: na maior parte dos casos, punha gente conhecida e desconhecida a assassinar poemas... E se " a poesia deve ser feita por todos", não deve ser dita por todos (nem, na maioria dos casos, pelos próprios criadores!)... Isto é, e não querendo ser mal interpretado: não pretendo lesar a liberdade de expressão de ninguém; quem quiser, pode dizer, mesmo publicamente, o que quiser e como quiser! O que pretendo expressar é que são poucos os que a dizem bem (como a pesquisa que fiz confirmou, tal como confirmou ser Maria Bethânia um dos mais notáveis "transmissores" de poesia em língua portuguesa, facto que prolongou a tal pesquisa, arrastado que fui pelo prazer de ir saltando de registo em registo "mariano", sedução irresistível!)
    Desse conhecimento, em absoluto extemporâneo, da leitura genial do Raul Solnado, conclui que, se havia alguém na equipa de produção do dito-cujo programa que percebesse efectivamente de poesia e não tenha entendido que deveria partir dali para gravar uma série de programas de poesia com o Solnado, essa(s) criatura(s) é (são), objectivamente, (um) criminoso(s). Se a proposta existiu e não foi aceite pela RTP, então o crime incluir-se-á no cadastro do(s) respectivo(s) decisor(es)...
    Numa primeira tentativa de busca, não consegui encontrar a gravação do Solnado no "Youtube". Será que procurei mal? Será que a "R e T de P" a tem disponível na "Net".
    Em todo o caso, se puderem "caçá-la", não a percam! Atentem nas pequenas mudanças na enunciação e no tom, nas pausas!... É uma delícia e uma lição - de como se põe na voz a indispensável ANÁLISE do texto poético.

    Parabéns pela Maratona!

    Paulo Rato

    ResponderEliminar
  4. Amigo Paulo Rato, ficámos completamente convencidos. Vamos procurar "caçar" essa gravação.Obrigado. Apareça quando quiser, Um abraço.

    ResponderEliminar