quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Maratona Poética - É a vez de Archibald Mac Leish, Adão Cruz e Manuel Alegre


Archibald MacLeish
( Glencoe, Illinois, 1892 -1972)


ARS POETICA


A poem should be palpable and mute
As a globed fruit

Dumb
As old medallions to the thumb

Silent as the sleeve-worn stone
Of casement ledges where the moss has grown -

A poem should be wordless
As the flight of birds

A poem should be motionless in time
As the moon climbs

Leaving, as the moon releases
Twig by twig the night-entangled trees,

Leaving, as the moon behind the winter leaves,
Memory by memory the mind -

A poem should be motionless in time
As the moon climbs

A poem should be equal to:
Not true

For all the history of grief
An empty doorway and a maple leaf

For love
The leaning grasses and two lights above the sea -

A poem should not mean
But be
__________________


Adão Cruz
(Castelões, Vale de Cambra, 1937)

O MEU POEMA AZUL


Não sei fazer uma rosa nem me interessa
não sei descer à cidade cantando
nem é grande a pena minha.
Não sei comer do prato dos outros nem quero
não sei parar o fluir dos dias e das noites
nem isso me apoquenta
não sei recriar o brilho do poema azul...
...e isso dá-me vontade de morrer.
Procuro para além das sílabas e dos versos
a voz poderosa mais vizinha do silêncio
o meu poema azul…
o suspiro de Outono onde a brisa se aninha
no breve silêncio do perfume do alecrim.
Lugar das palavras e dos versos
no caminho do teu rosto junto ao rio dos teus olhos
onde a vida se faz poema
e o mar se deita nos lençóis de luz do fim do dia.
Procuro para lá das sílabas e dos versos
encontrar meu barco à entrada do mar
onde repousa teu corpo entre algas e maresia
meu amor perdido num campo de violetas.
O meu poema é tudo isto
que me vive que me ilude que me prende
ao lugar azul que procuro dia e noite
por entre os versos do meu ser.
Mas o poema mais lindo da minha vida ainda não nasceu
não tem asas nem olhos nem sentimento
que o traga um dia o vento se vento houver.
Dizem que no cimo dos pinheiros ainda é primavera
mas tão alto não chego.
Mais à mão
molho a minha camisa primaveril
no regato cristalino
que vai correndo por entre os dedos
num solo de violino.
Porém
vestido de tempo sem espaço e de espaço sem tempo
tento fundir a neve com o calor da nudez
em versos que tecem mais tarde ou mais cedo
o mundo das sombras.
Não sei colher uma rosa
nem sei descer à cidade cantando
sou apenas aquele que ontem dormiu
sobre um poema azul
e das asas da ilusão se desprendeu.
Sou aquele que ontem se despia
nos braços do poema que vivia.
Sou aquele que ontem habitava em silêncio
o poema que acontecia.
Sou aquele que ontem sonhou… em vão…
com o poema azul de mais um dia.

_________________________

Manuel Alegre
(Águeda, 1936)


AS PALAVRAS


Palavras tantas vezes perseguidas
palavras tantas vezes violadas
que não sabem cantar ajoelhadas
que não se rendem mesmo se feridas.

Palavras tantas vezes proibidas
e no entanto as únicas espadas
que ferem sempre mesmo se quebradas
vencedoras ainda que vencidas.

Palavras por quem eu já fui cativo
na língua de Camões vos querem escravas
palavras com que canto e onde estou vivo.

Mas se tudo nos levam isto nos resta:
estamos de pé dentro de vós palavras.
Nem outra glória há maior do que esta.

(De “O Canto e as Armas”).

Mário Viegas e a sua excelente tcnica de declamação neste poema de Manuel Alegre:



Vêm aí Carlos Drummond de Andrade, João Rui de Sousa,, mas trazem um tipo com uma roupa estranha - olha é o William, o Shakespeare - contem com eles às nove.

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