quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A nossa encantadora Natureza – 7, por Andreia Dias

Sapo-parteiro-ibérico

Como prometido, desta vez falo de sapos. Augusta, perdão…

Certa vez recebi um e-mail que se intitulava “Como compreender um biólogo”. Entre outras coisas referia: “ […] entenda que o conceito de beleza de seu amigo biólogo é um tantinho diferente do seu. Sapos verdes, gosmentos e verruguentos são lindos.

Escorpiões, aranhas, opiliões (hein??), ay-ays são todos lindos. Tente não vomitar quando ele te mostrar as fotos da última necrópsia feita num golfinho […].

E este sapo… não sei se será encantado, mas é encantador… este foi o meu único encontro com um sapo-parteiro-ibérico. O meu pai, a quem devo o “bicho da bicharada”, tinha-o encontrado timidamente oculto entre paus e lama. Ali estava, o pobre coitado “baby-sitter”, à espera que o deixassem em paz… o tempo suficiente para tirar a fotografia. Admitamos que lá fotogénico é!



Por momentos apeteceu-me beijá-lo, não fosse às vezes transformar-se em príncipe… mas atempadamente me lembrei que se carregasse com ele filhos machos, poderiam transformar-se todos ao mesmo tempo em muitos príncipes o que seria bem mais complicado do que um só…

O Sapo-parteiro-comum é uma espécie semelhante. Ao contrário do Sapo-parteiro-ibérico, a sua distribuição em Portugal é praticamente contínua em toda a região Norte e Centro até ao rio Tejo (apresentando distribuição fragmentada numa zona litoral desde o Baixo Vouga até Sintra). Distinguem-se, por exemplo, pelo facto do Sapo-parteiro-ibérico apresentar dois tubérculos palmares e o Sapo-parteiro-comum, três.

É uma espécie endémica do Centro e Sudoeste da Península Ibérica e em Portugal apresenta uma distribuição praticamente contínua a Sul do rio Tejo (excepto península de Setúbal e pequena orla do litoral algarvio).

A reprodução ocorre no Outono e na Primavera, altura em que os machos cantam à noite. Após fecundação, os machos enrolam os cordões de ovos nos membros posteriores. O mesmo macho pode transportar a postura de várias fêmeas. Após 3 semanas de incubação, os machos deslocam-se até uma massa de água e os ovos eclodem de forma sincronizada. As larvas completam a metamorfose em 3 a 5 meses.

Os adultos capturam presas vivas: formigas, caracóis, escaravelhos e aranhas. As larvas alimentam-se essencialmente de matéria vegetal e de invertebrados aquáticos.

As principais ameaças são a alteração e destruição dos habitats onde possa ocorrer a espécie, e a presença de predadores introduzidos. As medidas de conservação passam pela preservação de charcos e ribeiros de pequena e média dimensão.

Curiosidades: É conhecido como “parteiro” pelo facto de ser o macho quem transporta os ovos nas costas, até que estejam prestes a eclodir, altura em que os deposita na água.

6 comentários:

  1. Ai, Andreia, que mazinha, um sapo! Hoje já tinha engolido a minha dose <:)Já venho ler o texto.

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  2. Muito bonito, Andreia ( o texto...) quanto ao sapo, coitado, bonito não é , mas é bom bicho faz o trabalho todo, é o que se chama "empregado doméstico" para todo o serviço. A natureza nem sempre dá bons exemplos...

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  3. Luís, ora aí está um bom exemplo da natureza, em que o elemento masculino é também capaz de cuidar da descendência. Mas há muitos outros, muitas excepções à regra... pena tenho de não fazer fotografia subaquática (ainda não cheguei lá). Mas o cavalo-marinho é também um bom exemplo, é o macho que fica "grávido", transporta os filhotes na barriga e depois, dá à luz... belos exemplos... a seguir de outras maneiras...

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  4. Andreia, que belo texto e que bela descrição!
    E que belo exemplar, ao qual darias, como bióloga, um beijo. Que ciumeira! Que orgulhoso me sinto de teres vindo ter ao estrolabio por minha mão.
    Para alguém como eu que se vestiu de sol e se despiu de luar, fez do abraço dos rios e das árvores o primeiro abraço da vida, teve os bichos como companheiros inseparáveis e como música a sinfonia, não a nona, mas a primeira, dos melros e rouxinóis, dos xinxarrabelhos e dos pardais, é magnífico ser capaz de entender o que dizes.

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  5. Que bom que gostou… fiquei comovida com o comentário. Muito obrigada! (corei!). Na verdade, partilhar as minhas fotos e os meus bichos, está a saber-me a cerejas (o meu fruto preferido!). E ainda mais desta forma levezinha, sem entrar em pormenores técnicos como o faço no meu mundo. É bonita a simplicidade das coisas! Eu também tive a maior sorte do mundo em poder ter crescido a colocar caracóis nos joelhos e vê-los deslocarem-se (a minha mãe odiava!) … talvez pertença a uma das últimas gerações que teve oportunidade de crescer no meio dos bichos, do feno… do cheirinho a bosta … que bom! Sinto-me uma sortuda! Obrigada por me ter trazido! Um beijinho enorme!

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  6. Apoiado que eu não sei dizer melhor.Uma beijoca Andreia.

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