sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Notas de cêntimo. (12) Que fazer?

Carlos Mesquita

Os números oficiais sobre a economia nacional não são suficientes para a compreensão do momento que passamos.

Hoje foi dia de alerta para a divida pública, amanhã será para outro indicador, em seguida para um outro, e com o decorrer dos episódios pode ser que os menos autistas percebam o enredo.

Toda a gente ouve falar das dificuldades das empresas, mas quem está no convento é que sabe o que lhe vai dentro. Contacto diariamente com industriais de PMEs, vou às empresas, falo com os quadros e outros profissionais, acompanho a produção, e vejo os seus semblantes. Conheço há muitos anos a maioria dos meus fornecedores e dos seus empregados, nunca os vi tão preocupados como agora, apesar de terem passado por várias crises económicas.

Sei o que é tentar sobreviver enquanto vemos em redor empresas como a nossa a fechar. Escapar num naufrágio generalizado pode ser deitar fora lastro para se manter á tona da água, mas não estão a largar o que é supérfluo, estão a dispensar os trabalhadores mais qualificados que pesam demasiado nos custos. Já não compram novos equipamentos para bater através da inovação a concorrência, nivela-se por baixo, produz-se com ferro-velho, está tudo no mesmo barco.

A indústria transformadora portuguesa nunca esteve de tão fraca saúde, sem crédito bancário, sem trabalho, acumulando dívidas aos fornecedores e ao Estado, esperando por melhores dias que lhe permitam restaurar a actividade e ter lucros suficientes para suprir as dívidas. Esperança vã em minha opinião, com as margens de lucro esmagadas com que se produz, jamais haverá recuperação. Dantes sabia-se que as crises eram passageiras, agora começa a haver a percepção que podem vir para ficar, ou pelo menos tempo suficiente para destruir o tecido empresarial existente de forma irreparável. Depois do que se passou no sector primário, agricultura e pescas, é chegada a vez da indústria. Sem medidas correctivas ao nível do crédito, dos custos energéticos e da fiscalidade, mais empresas vão encerrar, e o desemprego que ainda não reflecte a totalidade dos efeitos da crise, só pode aumentar.

A verdade é que o investimento está a baixar, a melhoria das exportações e a retoma do consumo privado foram (segundo o INE) suprimidas pelas importações (duplicadas pela compra de material militar e o aumento do preço do petróleo) e as ordens da Alemanha é de que não nos preocupemos com o crescimento, mas apenas e só com a divida pública.

Todos os partidos discutem o sexo dos anjos e a eunuca revisão constitucional, e nós o que podemos fazer? Talvez só nos reste esperar pela pancada, e ir abordando os assuntos sérios no meio da alienação geral.

2010-09-17 Carlos Mesquita

1 comentário:

  1. Esta crise trouxe muitas novidades que ainda não são visiveis. O emprego não arranca apesar de o crescimento já se estar a ver em quase toda a Europa. Nós. claro, divergimos, crescendo menos.

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