sábado, 25 de setembro de 2010

Novas Viagens na Minha Terra



Manuela Degerine

Capítulo CXVIII

Conclusões

Estou a escrever no dia 10 de Setembro de 2010. Regressei há quatro meses e reintegrei-me na vida lisboeta. Quase como antes.

Impõe-se agora questionar:

- O que resta do Caminho de Santiago?

Em primeiro lugar houve um considerável alargamento da minha terra. Até aqui eu conhecia a região de Lisboa, Tomar e os arredores, Sarzedas do Vasco e seu enquadramento, as paisagens do Alentejo, alguns espaços da orla costeira, os museus e cidades do centro e sul do país... Conhecia melhor Portugal do que a maioria dos outros portugueses; mas seguindo sempre pelas estradas. O Caminho de Santiago deu-me outro ponto de vista.

O património de um país não se encontra apenas em museus, monumentos e espaços protegidos pela Unesco; a travessia de Lisboa a Valença revelou-me paisagens de um inestimável património natural. Os percursos entre Arneiro das Milhariças e Fátima tal como entre Barcelos e Valença foram os supremos momentos desta descoberta. (Chorei diante da televisão quando, em Julho e Agosto, vi arder as florestas por onde passei.)

Confirmei o que suspeitava: entre Lisboa e Santarém, fora das auto-estradas e circuitos turísticos, as águas são cloacas, a terra é lixo e os ares serão tudo menos saudáveis. Enquanto caminhava lembrei-me daqueles desenhos que mostram como a Terra pode vir a ser – se não reagirmos. Pois... A região de Lisboa e Vale do Tejo já é assim. Neste ambiente catastrófico sobrevivem alguns animais, algumas plantas e muitos seres humanos. Estes demonstram uma extrema capacidade de adaptação porém, caso haja estatísticas, encontrar-se-á, sem dúvida nenhuma, uma taxa de mortalidade elevada. O desprezo pelos habitantes é evidente até na falta de infra-estruturas tão básicas como os passeios e, quem atravessa esta região, deduz que, para as autoridades, não vivem ali pessoas mas unicamente: mão-de-obra barata e descartável.

Isto não parece ser, apesar de tudo, o que no imediato mais atormenta a população. A poluição mata embora, na aparência, de modo lento; por isso o pior flagelo no presente, que a cada instante condiciona os gestos e o relacionamento – é a insegurança. O medo foi a reacção com a qual mais me confrontei até chegar a Coimbra. A partir dali estes problemas parecem atenuar-se de maneira progressiva; embora variável. Num contexto tão desumano, encontrei todavia pessoas atentas, generosas, curiosas e, à medida que avançava para Norte, notava que se mostravam progressivamente mais afáveis: a sua natural inclinação. O governo actual, como todos os precedentes, descura a segurança: oferece portanto à extrema-direita este problema tão essencial para a vida quotidiana e económica da população.

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