Adão Cruz
Muito difícil é desembarcar, digo eu que nunca fui marinheiro. Não consigo acostar o barco. Há sempre uma onda e outra e depois outra. Mesmo que o mar esteja manso, ou se é da terra ou se é do mar.
No dia em que eu voltar e vir a figueira com figos e a erva a crescer no merujo reluzente de prata das noites de luar, no dia em que eu voltar, vestido de ilusão, a olhar o mar e acreditar, nesse dia não chames por mim.
Mata-me a memória e a história, não deixes que viva uma hora descrente ou indiferente. São duras as horas e os minutos das palavras descrentes, indiferentes, alheias, adiáforas, frias, incuriosas, passivas. Uma espécie de árvore seca sem frutos nem sementes. Um vento áspero que perpassa por entre os dedos dormentes. É cruel a falta de palavras. São dolorosas as palavras indiferentes.
Na cegueira dos olhos sumidos de chorar sem lágrimas a noite ruidosa dos segredos, não há coisa mais triste do que olhar a chávena sem palavras cheias. Foi-se o encanto, e a poesia não passa de um saquinho de açúcar rasgado sobre a mesa abandonada do café vazio.
sábado, 25 de setembro de 2010
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Ora cá está, poesia da boa e não precisa de estar "às escadinhas"...
ResponderEliminarPronto, assim está bem...e eu gosto sempre.
ResponderEliminarÉ tão lindo! Esqueci-me de dizer isto: é tão lindo!
ResponderEliminarSão dolorosas as palavras indiferentes. É isso. As palavras e os actos. A indiferença com que muitas pessoas se sentem atingidas (em casa, na escola, no trabalho, na sociedade no dia a dia )mata a alma.
ResponderEliminarMinha querida Clara, tu dizes sempre coisas tão amigas!
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