quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Rente ao cair da folha

Adão Cruz


O plácido abrir da madrugada vai espalhando pelo chão da alma adormecida todos os gestos sensuais do cair da folha.

Os olhos presos no tecto escuro pousam por momentos na frouxa luz que entra pela frincha da janela.

Sonâmbulo ainda, o corpo estremece, e os dedos cruzados na tábua do peito começam a bulir, tirando do sono os fios do pensamento.

A fantasia esfrega os olhos de entontecida, e do tecto começa a descer o fio-de-prumo de uma consciência desconjuntada pelos sonhos da noite.

Nasce da mente um fino nevoeiro de ilusão tentando encobrir a desilusão da realidade de mais um dia. Mais um dia…menos um dia, a caminho do meu poema azul.


(ilustração de Adão Cruz)

7 comentários:

  1. Este poema azul já me está a dar cabo da cabeça. Transformou-se mesmo num quebra-cabeças.

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  2. Azul foi ontem quando te ouvi e hoje depois que te li. Azul é quando sonho com o mar e o céu que se misturam no meu olhar. Brilham as estrelas quando te canto. fico azul, tão azul como ontem quando te ouvi. Tocas devagar o concerto nº2 de Chopin, e o Maestro desmaia no acorde onde tudo é azul, tão azul como hoje quando te li. Se o silêncio pede a pausa um bater de palmas tímido chama por ti mais uma vez. Estás azul, tão azul como o céu que agora sorri. No fechar das cortinas descubro o vermelho carmim abraçando com paixão o azul do mundo que veio de ti. Na mistura do branco com o negro, do verde e azul, eras azul, tão azul como nunca vi. Nasce em nós a cor que doce se mistura sem nunca ser única. Dou-te um filho quase azul que abraça o verde sem preconceito. dou-te um beijo vermelho da cor do sangue que corre entre nós. Azul, quase azul seremos tais na mistura do teu sorriso com meu. Descansa agora que a noite regressa quase sem cor.

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  3. Lindo, Ethel, lindo! Porque é que só eu é que não tenho dom da poesia?

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  4. Augusta, escreves maravilhosamente! Sou fã dos teus textos!

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  5. Obrigada, Ethel. Eu, também, gosto muito da tua escrita.

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  6. Ethel, se o poema azul se transformou num quebra-cabeças, ainda bem, permitindo que de lá saiam coisas bonitas como esta.

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  7. Para a Ethel, pelos vistos, não é um quebra-cabeças para escrever algo tão lindo.

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