Carlos Mesquita
Em entrevista ao último “Expresso” Teixeira dos Santos deixou claro que uma das medidas aprovadas do pacote de austeridade, era impedir a acumulação de vencimentos com pensões no Estado. Dizia o ministro que “essas situações foram sempre entendidas como excepcionais, e num quadro de exigências acrescidas para todos, essa excepção não se justificava”.
A outra pergunta sobre se estava a falar de pensões pagas pela CGA (Caixa Geral de Aposentações) ou também de fundos de pensões, como, por exemplo, o Banco de Portugal? Disse, serem as “garantidas por entes públicos” e que “o Banco de Portugal é uma entidade pública”.
Chamado à atenção pelo entrevistador que nesse caso podia estar o Presidente da República, respondeu não ter pensado em ninguém em particular, e vincou, “não se pode estar a fazer política a pensar em A, B ou C”.
No entanto, sem se saber se por influência de A, B, ou C, ou X ou Z, enquanto as rotativas avançavam na impressão do jornal, o governo recuava incompreensivelmente na intenção de trazer moralidade na aplicação das medidas de austeridade. Assim no mesmo dia em que o “Expresso” saía, o Diário Económico (DE) noticiava; “Afinal, quem acumular pensões com salários, vai poder manter-se nessa situação”. Segundo o DE, Teixeira dos Santos explicou que após ter ponderado melhor, e por razões de ordem legal e constitucional, o governo achou por bem ser prudente e aplicar a norma apenas aos futuros casos.
Temos pois que nem “num quadro de exigências acrescidas para todos”, como disse o ministro, de pré bancarrota do país, observamos nós, se consegue mexer nos privilégios e interesses instalados.
A medida podia servir de indicador de que a crise tocava a todos, mesmo sabendo-se que isso é ilusório, mas o facto de atingir os titulares de cargos públicos e a elite de funcionários principescamente pagos, torna-a impossível.
Sem dúvida, é falso o apregoado espírito de missão e de devoção à causa pública dos nossos dirigentes.
O receio do governo em aplicar uma norma que aprovou em conselho de ministros, é significativo das leis aprovadas por aqueles que conseguiram vidas de luxo e regalias extraordinárias à custa do Estado. Os deputados que elegemos fizeram leis que lhes são favoráveis, a eles e aos seus, da presidência aos governos, dos autarcas aos gestores públicos, são uma classe à parte; sem vergonha ou embaraço em afrontar quem para eles trabalha.
Curiosamente ou talvez não, a comunicação social não dá qualquer relevo a esta indecência. Os partidos, dos mais à esquerda aos mais à direita, também nada dizem, a gamela é comum; e como no caso do financiamento partidário, há unanimidade na defesa dos privilégios da classe política.
Uma miséria generalizada.
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
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