segunda-feira, 11 de outubro de 2010
O Setentrião – um projecto cultural em Trás-os-Montes e Alto Douro (2)
Nesta fotografia dos coordenadores da revista Setentrião, datada de Julho de 1962, vemos da esquerda para a direita, António Cabral, Carlos Loures, Eduardo Guerra Carneiro e Ascenso Gomes.
Estas e outras coisas, que tenho estado aqui a recordar, disse-o numa sessão pública, seguida de debate, no Grémio Literário Vila-Realense, em 21 de Março de 2009 em que também interveio Eurico Figueiredo. A intervenção do Eurico, tal coimo a minha, centrou-se nas memórias desses anos da ditadura em que, não só nas duas grandes cidades do País, mas também nas mais pequenas se tentava contrapor à ofensiva ideológica do Estado Novo uma cultura independente. Era uma luta de resistência, enfrentando a poderosa máquina de propaganda do regime. Mas sempre houve quem resistisse.
Numa entrevista ao Diário Ilustrado, em Setembro de 1962, António Cabral contou como de «um bate-papo à mesa de um café de Vila Real», nasceu o Movimento Setentrião – além dele próprio, Eurico Figueiredo, Nuno Barreto, Eduardo Guerra Carneiro e José Vasconcelos Viana, foram os pioneiros do movimento. Era uma tertúlia que começara três ou quatro anos antes a debater questões relacionadas com a cultura transmontano-duriense. O movimento surgia como consequência lógica desses informais debates.
No primeiro número, publicado em Janeiro de 1962, que abria com um texto de Eurico Figueiredo «Sobre a Necessidade de Núcleos Culturais Activos na Província», havia, entre outros, textos de António Cabral, Casimiro de Brito, Maria Teresa Horta, Vasco de Lima Couto, Nuno Barreto. Destacava-se também uma interessante entrevista com Nadir Afonso.
Os números 2 e 3 da revista, saíram em volume duplo publicado em Junho de 1962. Foi da equipa coordenadora desse volume que fiz parte com António Cabral, Ascenso Gomes e Eduardo Guerra Carneiro. Além dos coordenadores, colaboravam, entre outros, Fèlix Cucurull, Manuel de Castro, Maria Rosa Colaço, António Ramos Rosa, Fernando Lopes Graça, Fernando Midões.
De notar que, além dos nomes referidos, houve outros elementos que tiveram importante papel na evolução do movimento, como por exemplo António Barreto e José Gonçalinho de Oliveira. Dos quatro coordenadores do número 2-3 da revista Setentrião, dois já não estão entre nós – o António Cabral (1931-2007) e o Eduardo Guerra Carneiro (1942-2004).
A sessão realizada o ano passado por iniciativa do Grémio Literário Vila-Realense, foi muito interessante e participada. Vem demonstrar uma coisa que, devido às minhas itinerâncias, há muito tempo sei: a vida cultural não se resume a Lisboa e Porto. Nas cidades mais pequenas, há gente empenhada na cultura, como acontece em Vila Real - o Elísio Amaral Neves – que foi a alma da exemplar organização das comemorações, seu irmão, Frederico Amaral Neves (um excelente diseur), o Ascenso Gomes, um dos fundadores do movimento Setentrião, e, last but not least, o notável poeta e romancista António Pires Cabral, presidente do Grémio … Certamente muitas outras pessoas que, por desconhecimento, não nomeei. E, bons equipamentos, salas, instituições culturais…O poder local tem um ou outro aspecto negativo (sobretudo quando os autarcas não são honestos), mas o saldo é francamente positivo.
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