domingo, 31 de outubro de 2010
Arte poética: Casimiro de Brito, Augusta Clara de Matos, Celso Emilio Ferreiro
Casimiro de Brito
( Loulé- 1938)
DA POESIA: ARS COMBINATORIA
Agrada-me pensar que o poema (o livro) que estou a escrever são vários poemas, tantos quantos os leitores que fizerem do meu texto, por um momento que seja, o seu espelho, um espelho côncavo ou convexo, nunca liso, um rio onde possam encontrar interpretações distintas e até opostas sobre o amor e a morte, o poder e o prazer, os sentidos da existência. Não sei quem disse que um poema era um fruto comido por mil bocas, um fruto intacto.
(Fragmentos de Babel seguido de Arte Poética”).
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Augusta Clara de Matos
(Lisboa, 1945)
À POESIA
Poesia, toda a minha vida fingi que te ignorava
Mas sempre te invejei o elo aos que não se deixam atraiçoar pela língua.
Como me parecias longínqua, inacessível.
Eras d’outrém, não eras minha. Tinha ciúmes, mas era incapaz de competir. E ainda sou.
Mas sinto-te, sabes, não preciso de te ceder. Sinto-te com o corpo todo, por todo o lado.
E sem palavras.
Só no silêncio, poesia, te consigo entender.
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Celso Emilio Ferreiro
(Celanova ,Ourense, 1912 - Vigo, 1979)
A POESIA É VERDADE
Un procura a verdade
por tódolos camiños, baixo as pedras,
nas raigames mais escuras das olladas,
máis alá das escumas i os solpores.
Busco a verdade en ti, rexa poesía
dos homes que labouran,
taito real das cousas
que están e son, anque ninguén as vexa.
Home total,
que vas e ves sin sombra polas rúas
e tes a túa verdade nos curutos
do mundo, no profundo da historia,
na esperiencia de un dia calisquera,
e non ves os paxaros nin as nubes
nin as lonxíncoas maus do vento dondo
que acariñan o mundo desde sempre.
Investiga a verdade do teu tempo
i alcontrarás a poesia.
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Sempre disse isso, Augusta, A poesia é para fazer e ser lida em silêncio. Por isso eu digo, desde há muito, que ela é a voz poderosa mais vizinha do Silêncio
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