Comemorámos hoje o centenário do nascimento de Ricardo Carvalho Calero. (Ferrol, 1910 — Compostela, 1990). Quase desconhecido em Portugal, é uma figura cimeira da intelectualidade galega do século XX, escritor e filólogo. Foi na Universidade de Santiago de Compostela, o primeiro Catedrático de Língua e Literatura Galegas.
Principal teórico da corrente reintegracionista, ou seja, dos que defendem que o galego e o português se devem voltar a unir, pois são duas formas dialectais do mesmo idioma, como defenderam Carolina Michaëlis e Manuel Rodrigues Lapa, entre outros. Porém, apesar da grande importância que a sua obra assumiu, sobretudo na última fase da sua vida, Carvalho Calero não teve nem tem em Portugal a ampla divulgação que se justificava pela importância que a sua obra assumiu na hermenêutica das origens do nosso idioma.
Dissemos que em Portugal o Professor Carvalho Calero não teve até agora a divulgação merecida. Pois na sua pátria tampouco a teve. Com a devida vénia, transcrevenos do Portal Galego da Língua uma entrevista com Alexandre Banhos que conhecemos já por um texto admirável aqui publicado há tempos - "Ou reintegracionistas ou imbecis (com humor amoroso)" e cuja publicação repetimos hoje. Eis a entrevista com Alexandre Banhos Campo.
Entrevista com Alexandre Banhos
"há gente que nom quer esse monumento, que teme o formosíssimo bronze do busto de Carvalho Calero"
PGL - No vindouro 30 de outubro prevê-se inaugurar em Compostela umha estátua em homenagem a Carvalho Calero. O projeto, impulsionado pola Fundaçom Meendinho, está a topar entraves inesperados, e precisam-se com urgência mais de 10.000 euros. Alexandre Banhos, membro da Fundaçom, aclara-nos os porquês.
PGL: Quanto tempo leva a trabalhar a Meendinho para homenagear Carvalho Calero?
Alexandre Banhos: A Fundaçom Meendinho acordou em junho de 2009 apoiar difundir e participar, em todo tipo de iniciativas que ao longo de 2010 se realizarem para homenagear a esse galego exemplar. Membros do seu padroado têm participado em quanto ato tem sido convocado por organizações da Galiza em homenagem a Carvalho Calero, do qual se pode achar informaçom no PGL.
O de impulsionarmos o monumento parte de um clamor que existia na sociedade. Na Assembleia da AGAL e no seu Conselho, nos meses de março e abril de 2009 veu a tona o impulsionar no ano 2010 um monumento sobranceiro para Carvalho Calero, mas viu-se muito difícil concretizá-lo com sucesso.
Na ssembleia da Associação Pro-AGLP de fins de junho de 2009, de novo membros presentes voltárom a fazer a proposta de um monumento ao professor Ricardo Carvalho Calero em Compostela. Como no seio da AGAL, foi valorizado muito positivamente, e igualmente a maioria dos presentes achou que era um objetivo muito difícil de conseguir.
No mês de outubro do ano passado, em reuniom do padroado da Fundaçom, debateu-se se seríamos quem de impulsionar esse monumento, nom como algo da Fundaçom e sim como algo do melhor da Galiza —sem nos fecharmos a ninguém, sem pormos chatas a quem quiger colaborar—, fazendo algo que perdurar no tempo e falar positivamente às gerações futuras. Ali, depois de valorizar as dificuldades e possibilidades, decidiu-se levar o projeto para a frente.
Lançámos o concurso, do qual ficámos muito contentes com a resposta de umha notável representaçom de escultores da Galiza e Portugal, e seguimos os passos correspondentes. Assim, apresentámos o projeto a instituições, nomeadamente as universidades e entidades locais da Galiza que repetidamente reclamaram 2010 como Ano Carvalho Calero ou figeram protestos do mau trato que se dava a uma figura da sua importância, recebendo a iniciativa, muito boa acolhida.
Protótipo do monumento, ligeiramente diferente com a versom final
PGL: Que tipo de sacrifícios se têm realizado a fim de lograr o objetivo?
AB: A Fundaçom Meendinho é uma entidade séria a e a sua palavra é ouro, nom importam os sacrifícios que tenham de ser feitos —de todo tipo— para levar avante o projeto. Aliás, sabemos que a Galiza é um povo de bons e generosos que, quando acreditam nalgo, somam-se e pujam como o primeiro.
Além disso, a mim pessoalmente as tensões têm-me afetado à saúde, a nom poder dormir, e até a ser ingressado de urgências num estado de certa gravidade na primeira quinzena de setembro. Nom podo falar do que se passou com outros membros.
PGL: Que problemas está a haver para a instalação da estátua a Carvalho Calero?
AB: O Concelho de Compostela, que participou na seleçom da obra —agora mais reduzida de tamanho do que inicialmente estava nas bases do concurso— valora muito positivamente o projeto e sabe que o vai receber a cidade: umha obra do escultor José Molares, de grande qualidade, que esta vai valorizar a sua contorna e enriquecer o seu património, umha obra que está pensada para um lugar e para interagir com o público, para ser tocada.
O local escolhido inicialmente cumpre os requisitos ideais, e assim foi visto por todos. A obra, além disso, vai contribuir ao diálogo com o espaço de tal maneira que põe ainda mais em valor esse magnífico espaço que é a Alameda compostelana.
Mas há gente que nom quer esse monumento, que teme o formosíssimo bronze do busto de Carvalho Calero, como a Junta da Galiza, que através da Conselharia da Cultura negou qualquer apoio ou ajuda ao projeto.
Há pessoas de certo peso na Galiza que estám a tentar travar ajudas, e levando aos ouvidos de alguma gente umha imagem distorcida de Dom Ricardo, como se fosse uma espécie de demo com cornos. Infelizmente, gente ligada à filologia galega —muito escassa essa gente, confrontada com a maioria da filologia—, alguma até aluna do professor, primeiro catedrático da matéria na Universidade de Santiago, que nom gosta do projeto. Que problemas achárom com o busto? Eu, pessoalmente, nom alcanço a entendê-lo.
Todo isto influi, e desde o Concelho propõem um lugar alternativo perto da própria Alameda, que é excelente também, mas nom da qualidade do inicialmente proposto, nom é lugar para o busto ser tocado e sovado tal como exprime uma obra que nom vai deixar indiferente com a sua beleza. Da Fundaçom Meendinho estamos seguros de que o Concelho de Compostela, que apoia firmemente o projeto, entenderá a importância do monumento no lugar inicialmente previsto, e a sua projeçom cívica.
PGL: Existem, pois, pressões? Há interesses em ocultar qualquer tipo de homenagem a este ilustre galego?
AB: Eu ainda nom entendo por que a Real Academia Galega nom lhe dedicou o ano 2010, penso que poucas petições houvo mais numerosas e unânimes... acho que o comportamento ininteligível da instituiçom, além de nom falar muito bem dela, fala de que na Galiza há quem quer Carvalho Calero apagado. Eu nom entendo nem chego a perceber onde pode estar a causa.
Carvalho Calero era uma pessoa honesta e coerente, generosa e apartada de todo sectarismo, aberto a todos e amigo de todos, e sempre que fixo algo tivo um caráter integrador. Por mais voltas que lhe dou, nom percebo o porquê da nom colaboraçom entusiasta de muitas pessoas e instituições. A única explicaçom que podo achar e o vírus do sectarismo, tam freqüente entre nós e do qual o professor estava imaculadamente limpo.
PGL: Que opiniom merece à Meendinho a ocultaçom que está a haver por parte de instâncias oficiais o esquecimento, talvez deliberado, contra Carvalho Calero?
AB: Algo muito triste. Os povos têm que se orgulhar do melhor que produzem homens e cousas e factos, e nom fazê-lo só leva à desmemória, e a desmemória ao alzheimer social.
PGL: Voltando para a estátua, quando dinheiro resta para a poder finalizar?
AB: A Meendinho, quando começa o projeto é porque lhe saem todas as contas. Com o que nom contava era que compromissos firmes de instituições —que, aliás, elas próprias deveriam ser o motor deste tipo de iniciativas—, agora se convertam em águas de bacalhau, faltem à palavra ou ponham escusas de mau pagador. Porém, aguardamos contornar esse problemas com o entusiasmo de muitos e muitas e de outros que sabem do valor exemplar do projeto, que nom é da Meendinho, mas de todos e todas. Prefiro nom dar uma cifra se nom é completamente exata, mas ainda falta umha quantidade bem por cima dos dez mil euros.
PGL: O que podem fazer as pessoas interessadas em colaborar?
AB: As pessoas podem fazer um ingresso na conta da Meendinho.
Caixanova: 2080 0132 15 0040021179
(IBAN) ES25 2080 0132 1500 4002 1179
Recomendamos darem o nome mais o bilhete de identidade na transferência, pois em janeiro a Meendinho fará a sua declaraçom à Agência Tributária estatal, e mercê a isso as pessoas doantes terám direito a umha deduçom fiscal de 25% do achegado, conforme a Lei do Mecenato. Também temos um leilão de obras magníficas com preços muito baixos, ao qual ainda se irám integrando mais obras, e que acho de muito interesse.
O monumento vai ser inaugurado no dia 30 de outubro às onze horas, e no ato vai estar o melhorinho da Galiza e das suas instituições. Vai ser um momento muito lindo para todos e todas. Além disso, nesse mesmo dia cumpre-se 90º aniversário da revista Nós, o qual ainda faz mais importante a data. A Fundaçom Meendinho e o Concelho de Compostela vamos convidar todo o mundo ao ato, sem sectarismos, pois nós queremos que esse monumento seja de todos e todas e as palavras vam estar abertas para todas as instituições que se orgulhem com o projeto.
sábado, 30 de outubro de 2010
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