terça-feira, 5 de outubro de 2010

A Bandeira e o hino da República Portuguesa (Centenário da República)



Carlos Loures

Este meu texto tem apenas um objectivo – falar da bandeira e do hino nacional, os dois símbolos da República Portuguesa.

A bandeira

A bandeira, a verde-rubra, a tal que, faz 100 anos, foi içada na varanda do Município. Não foi fácil a sua aprovação - as cores verde e vermelha do ponto de vista da heráldica e da vexilologia, são incompatíveis - e havia quem não a quisesse..

 Porém, desde a revolta de 31 de Janeiro de 1891, estas cores estavam associadas ao Partido Republicano Português. Durante quase vinte anos, com diversas combinações – umas vezes era o verde que ficava junto da tralha outras o vermelho – foram sendo usadas pelos republicanos. Assim, quando após a implantação da República, abolida a bandeira da Monarquia Constitucional, foi aberto um concurso para a aprovação de uma nova insígnia nacional. Mas foi dado um prazo muito curto para apresentação das propostas. Houve diversos projectos, uma das quais do grande poeta republicano Guerra Junqueiro, que defendia que as cores da bandeira deviam ser mantidas substituindo-se apenas o brasão de armas. Fazia todo o sentido, porém, o apego ao verde e o vermelho prevaleceu.


Columbano Bordalo Pinheiro, João Chagas e Abel Botelho foram nomeados para a comissão que especificaria os pormenores e vigiaria o trabalho da Cordoaria Nacional encarregada de executar a encomenda. Columbano, o grande pintor, fez estudos de cor, escolheu criteriosamente os tons de verde e de vermelho (de forma a que a incompatibilidade se esbatesse), evitando o verde garrafa e o vermelho vivo. Com surpresa sua, quando as bandeiras foram entregues, as cores eram garridas – tal e qual como a comissão nomeada pelo Governo Provisório dissera que não deviam ser. Justificação: «para a quantidade encomendada, só tínhamos em armazém tecidos destas cores».

É uma discussão recorrente – se devemos ou não voltar à bandeira azul e branca. É mais bonita e o azul e o branco são compatíveis entre si, como a vexilologia quer. Mas, passados todo este tempo, não teria justificação. Durante a Monarquia, da Fundação a 1910, em 770 anos houve talvez mais de 20 bandeiras. A bandeira azul e branca vigorava desde 1830, tendo durado, com pequenas alterações, 80 anos. A verde-rubra  faz hoje cem anos 100 anos – nenhuma bandeira monárquica durou tanto. Talvez não seja muito bonita, mas já nos habituámos a ela.

E onde é que está escrito que as bandeiras têm de obedecer às regras da vexilologia e da heráldica?

O hino

Quando em 1890 o governo britãnico apresentou ao de Portugal o humilhante Ultimato, houve uma expontânea e vibrante reacção popular que a propaganda republicana habilmente explorou. A "nossa velha aliada", à época a superpotência mundial, impôs-nos - ou abandonávamos os territórios entre Angola e Moçambique, que o famoso Mapa cor-de-rosa colocava sob soberania portuguesa, ou a seria a guerra. Sabia-se que a esquadra inglesa podia, pelo alcance da sua potente artilharia, destruir Lisboa e o Porto sem sofrer baixas. Não tínhamos poder bélico para resistir - não se tratava de coragem ou de cobardia.

O que se pode censurar ao governo monárquico não é propriamente o ter cedido - foi a posição resignada que assumiu. O corte de relações era o mínimo. E uma declaração à comunidade internacional denunciando a prepotência britânica. Foi um dos factores mais importantes para a queda do regime, vinte anos depois. Como disse, o ódio aos ingleses era generalizado e o movimento insurreccional do Porto, em 31 de Janeiro de 1891 foi a expressão da humilhação sentida pelos militares que tentaram derrubar a Monarqua, considera cúmplice de Inglaterra. No meio da genuína revolta dos portugueses, em 1890, Henrique Lopes de Mendonça e Alfredo Keil compuseram «A Portuguesa» que os republicanos usaram como hino.

Após a Proclamação da República foi adoptado como hino nacional.

Vejamos então como bandeira e hino funcionam na prática.


Sem comentários:

Enviar um comentário