terça-feira, 5 de outubro de 2010

O Zeca fadista e a Amélia cantadeira.

Luis Moreira

O Zeca fadista, canta e toca viola na Baixa de Lisboa e emite uns sons tipo assobio, uma espécie de solista, de gaita de beiços. É um artista que nunca frequentou escola nenhuma de música, nasceu com aquele talento musical, com um ouvido que, se não é "absoluto" é muito próximo, pois ele não faz fífias no meio daquela algazarra. Mas o Zeca, tem outras interessantes caracteristicas. Uma delas é que o Zeca já não tem a idade do tempo em que arrasava as garotas da noite, era só elevar a voz num fado trinado e o mulherio era aos magotes. Agora engordou e empobreceu, mas o Zeca é dos que engorda na barriga e na cara, como não tem dinheiro, usa os óculos escuros comprados quando arrasava o "mulherame" o que faz que os óculos lhe fiquem pendurados na ponta do nariz , mas as astes não lhe chegam às orelhas, o que lhe dá um ar de quem se está rir, mesmo quando canta.

A Amélia cantadeira, é daquelas mulheres pequeninas e magrinhas, de idade indefinida, espreme-se toda para arrancar um som à sua voz já cansada, não engorda por mais que coma, é toda nervos, ajeita o chaile sobre os ombros num tique que lhe ficou da juventude nas casas de fado, fecha os olhos, levanta-se sobre os pés, ah, fadista.

Fui-lhe dizer que ela tinha nascido fadista, bastava olhar para ela, o ar gingão, a voz a trinar, a emoção a tomar conta dela, enquanto o Zeca fazia um dos seus intervalos, tocava viola num compasso repetido mas sem falhas, desconfio que passa pelas brasas e está explicado o uso dos óculos escuros, e ela, no meu tempo os homens morriam por mim, mas só amei o meu, que já lá está, ele "era assim grande como você" e esta frase é um livro aberto, "era", porque já se foi e ela ficou e "grande",porque mesmo magrinha podia bem com ele, coitadinho que não saía da taberna, e depois dormia à porta que quando eu chegava às tantas queria era dormir, não estava para aturar bebedeiras e ataques de ciúmes...

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