quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Dia de Lisboa - Sílvio Castro, Abel Manta, Carlos do Carmo, José Carlos Ary dos Santos e Paulo de Carvalho,


Este quadro é uma das obras mais emblemáticas  do mestre Abel Manta - o Largo Luís de Camões.


Um belo poema de um  colaborador do Estrolabio- um consagrado escritor brasileiro que é Professor Universitário em Pádua e que ama Lisboa - o nosso querido Sílvio Castro.

Lisboa

I


Não melancolia, mas alegria
sinto nas ruas de Lisboa,
por descobertas não mais marítimas,
terrestres urbanas,
navegações que encontram
a cada passo
novas terras
espaços
do ser quotidiano,
estando em Lisboa.

Entro na cidade pelo Tejo,
vindo de um amado rio
de janeiro
para este abril de primavera –
passo por Belém em navegação
inversa,
acompanhado por Caminha:
também aqui pode-se plantar
e ver que tudo dá –
plantam-se sonhos e surgem
esperanças;
ilusões são certezas
depois do longo banho
no rio.


II

Não melancolia, mas alegria
sinto nas ruas de Lisboa –
desço em inclinação veloz
a rua D. João V na direção
do Rato
por calçadas cobertas
de cor violeta, não de roxo,
violeta alegria
caída do alto para o chão
em pétalas
semelhantes a vasos cúbicos
- clássicos ou barrocos? –
maneiristas quase;
é um abril maio primavera
na rua D. João V recoberta
desta cor violeta descida
dos jacarandás quietos
na gestualidade
que no fugaz espaço
de abril e maio
permite o surgir de flores
onde eram folhas.

III


Não melancolia, mas alegria
sinto nas ruas de Lisboa –
desenho finalmente
livre de outras distrações
urbanas e natais
o florir do mito
marmóreo do jacarandá,
sempre sabido
vivido
mas nunca contemplado
diretamente no florir
violeta vindo
do verde
dos verdes ramos
quietos –
o mito está comigo
desde o primeiro gozo
tátil da mesa
de minha casa –
agora não toco o mármore
metafórico:
descobridor eufórico
me cubro de violeta
na rua D. João V,
na primavera de Lisboa.



E, na voz de Carlos do Carmo, »Lisboa, Menina e Moça», poema de José Carlos Ary dos Santos, música de Paulo de Carvalho:


2 comentários:

  1. Qual deles o melhor! És um poço de conhecimeto e bem fazer.

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  2. Que lindo o mar de violetas do Sílvio de Castro. Onde é que eu já ouvi isto? E qual é a alface que consegue ir dormir?

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