terça-feira, 12 de outubro de 2010

Hoje festeja-se o Dia da Hispanidade, dia em que os mineiros soterrados começam a ser resgatados



Mineiros soterrados na mina Esperanza, no norte do Chile


Terra, terra, foi a primeira palavra espanhola que se ouviu no que parecia ser um mundo novo. Cristóvão Colombo acabava de provar a sua teoria de que o mundo era redondo, apesar de ele próprio, por morte, não ter assistido à comprovação da sua hipótese. Aliás, nem ele estava certo se era como ele pensava este mundo em que habitamos. Estava convicto de que navegando para oriente encurtava o caminho marítimo para a Índia, daí a designação, Índias orientais, dadas às novas terras. Quem viu pela primeira vez essas terras das Índias orientais, permitindo à coroa de Castela concorrer com os portugueses, que no Século XV eram os seus rivais nas descobertas de todas as terras além Europa, foi o navegador por nome Rodrigo de Triana. Esse grito do marinheiro foi lançado a 12 de Outubro de 1492, às 2 horas, como consta no diário de Cristóvão Colombo, texto editado pela casa Anaya, Madrid, 1985.

Cristóvão Colombo (República de Génova, 1451 — Valladolid, 20 de Maio de 1506), navegador e explorador europeu, responsável por liderar a frota que alcançou a América em 12 de Outubro de 1492, sob as ordens dos Reis Católicos de Espanha. Empreendeu a sua viagem através do Oceano Atlântico com o objectivo de atingir a Índia, tendo na realidade descoberto as ilhas das Caraíbas (Antilhas) e, mais tarde, a costa do Golfo do México na América Central. (fonte: Taviani, Paolo Emilio : "Cristobal Colon : genesis del gran descubrimiento / Paolo Emilio Taviani"; Barcelona : Instituto geografico de Agostini : Teide - IT\ICCU\UBO\1205760).

Convicto como estava, denominou às terras descobertas San Salvador. O seu primeiro gesto ao descer à terra foi ajoelhar-se, dar graças a Deus, implantar o estandarte dos seus patronos, Os Reis Católicos, Isabel de Castela quem nunca duvidou das ideias de Colombo, e do seu marido, o Rei Fernando de Aragão. Desde esse mesmo dia, mal começaram os descobridores a encontrar ouro, prata, pedras preciosas e um acolhimento servil e sereno por parte dos habitantes, que pensavam ter recebido a visita dos deuses, até à terrível prova em contrário, começaram também a violar nativos das Caraíbas e a guardar, para si, os tesouros que encontravam. Seguiu-se-lhe, como consta na documentação produzida pelo próprio, frade Bartolomé de las Casas (Sevilha, 1474 — Madrid, 17 de Julho de 1566), frade dominicano, cronista, teólogo, bispo de Chiapas (México) e grande defensor dos índios, considerado o primeiro sacerdote ordenado na América).

Mas essa é outra história. Por ora, queria explicar, neste pequeno texto, que as novas terras descobertas (três vezes maior que as europeias, passaram para a posse da Coroa Espanhola, juntamente com os seus habitantes, trabalhando, agora, as suas próprias terras para os estrangeiros), foram cartografadas por Américo Vespúcio, que ao perceber tratra-se de um novo mundo, passou a designá-lo por Índias Ocidentais. Américo Vespúcio (em italiano Amerigo Vespucci; Florença, 9 de Março de 1454 — Sevilha, 22 de Fevereiro de 1512) foi um mercador, navegador, geógrafo, cosmógrafo italiano e explorador de oceanos que viajou pelo, então, Novo Mundo, escrevendo sobre estas terras a ocidente da Europa. Como representante de armadores florentinos, o mercador e navegador Vespúcio encarregou-se em Sevilha do aprovisionamento de navios para a segunda e a terceira viagens de Cristóvão Colombo.

Supõe-se que tenha participado de incursões pelo Atlântico desde 1497. Em meados de 1499 passou ao largo da costa norte da América do Sul, acima do rio Orinoco, como integrante da expedição espanhola de Alonso de Ojeda, a caminho das, já agora, Índias Ocidentais. Fonte: Diz dele o historiador britânico Hugh Thomas em «Rivers of Gold», 2003, traduzido em espanhol como «El Imperio español - De Colón a Magallanes», Planeta. 2006, páginas 377/378: «Os Vespucci eram uma das famílias florentinas mais importantes, donas de grande extensão de terra fora da cidade, em Peretola, povoado hoje destruído pela construção de um aeroporto internacional. Fizeram fortuna no comércio da seda. Tinham palácio em Florença, muito bem situado, a noroeste, perto da Porta del Prato então chamada Porta della Cana, distrito de Santa Lucia di Ognissanti. Diversos membros da família haviam ostentado cargos importantes, por muitas gerações, em Florença (...). O jovem Vespúcio estudou sob a direção de seu tio Jorge (Giorgio), que lhe falou de Ptolomeu e de Aristóteles, e provavelmente conheceu Toscanelli, o geógrafo florentino e comerciante que se correspondia com o rei de Portugal e com Cristóvão Colombo. Vários Vespucci já haviam estado ligados ao mar (...). O jovem Américo começou sua carreira em Paris, como secretário particular de um primo, Guidantonio Vespucio, que exercia como embaixador de Florença na capital francesa, e que depois se dirigiu a Roma e Milão com o mesmo emprego. Posteriormente Guidantonio foi nomeado magistrado ou confaloniero chefe de Florença. Mas Américo começou a trabalhar para o novo ramo da família Medici que na ocasião dirigia o jovem Lorenzo di Pier Francesco dei Medici, e seu irmão Giovanni (João). Viajou por causa do trabalho a distintas partes de Itália e visitou diversas vezes a Espanha, até se estabelecer em Sevilha no Outono de 1492, quando Colombo já tinha partido na sua primeira viagem. Seguia trabalhando para os Medicis. No ano seguinte colaborou com Juanotto Berardi, seu «amigo especial», que ajudava os Medici desde 1489. Segundo um dos biógrafos de Américo Vespúcio, a sua ambição havia sido alentada pelo que Colombo tentara, e segundo ele não conseguira, isto é, chegar à Índia pelo oeste. Daí a sua participação na expedição de Alonso de Ojeda entre 1499 e 1500, e ter aceite o encargo de seguir o litoral do continente sul-americano, por ordem do rei de Portugal, entre maio de 1501 e o verão de 1502, quando percorreu o litoral brasileiro desde o que chamou Cabo de São Roque (onde esteve em 16 de Agosto) e, além da Bahia e do Rio de Janeiro, até Cananéia (onde chegou em Janeiro de 1502). Aquele seria, segundo ele, o ponto mais ocidental ao qual, em virtude do Tratado de Tordesilhas com a Espanha, poderiam aspirar os portugueses. E logo prosseguiu a sua viagem rumo ao Rio da Prata.

Por estes motivos, pode dizer-se que o descobridor foi Américo: toda a Europa falava das terras de Américo, pelo que os seus filhos ocultaram o nome do seu pai que, entretanto, tinha sido enobrecido como Duque de Carvajal. Em 1479 Colombo desposou Filipa Moniz, residente no mosteiro feminino de Santos-o-Velho da Ordem de Santiago desde a morte do pai, Bartolomeu Perestrelo, cavaleiro da casa do Infante D. Henrique, de ascendência presumivelmente italiana, de Placência, e um dos povoadores e primeiro capitão do donatário da ilha do Porto Santo.

Da união nasceu um filho em c. 1474-80, Diogo Colombo, nomeado pela Coroa Espanhola como 2º Almirante e Vice-rei das Índias.

A partir de 1485 Colombo reside em Castela. Chegando a Córdova com a corte, teve um caso amoroso, no Inverno de 1487-1488 com uma moça humilde por nome Beatriz Enríquez da qual nasceu, a 15 de Agosto de 1488, Fernando Colombo. A esta moça deixa Colombo, no seu testamento, a renda anual de 10.000 maravedis, presumivelmente como compensação pelos danos causados à sua honra. Fonte: Pergaminho do Mosteiro de Santos o Velho, que atesta a presença de uma Filipa Moniz nesse convento, e Livro das Ilhas, p. 97v, guardado na Torre do Tombo.

Em 1509 os seus restos mortais foram transladados para a capela da ilha Cartuxa, em Sevilha.

Por desejo do seu filho, Diogo Colombo, as ossadas foram levadas para a Catedral de São Domingos, em 1542.

A descoberta das Índias Ocidentais corresponde ao dia festivo de Espanha, dedicado a Nossa Senhora do Pilar, ícone ao qual o meu avô aragonês, Angel Redondo del Cacho, advogado, tinha especial devoção, levando consigo a imagem para todas as terras em que exereu a sua profissão de Notário do Reino. Nos acasos da vida, entra també, a data da sua morte, aos 74 anos de idade, exactamente no dia de comemoração da Virgem do Pilar.

As colónias, convertidas em Repúblicas mais tarde, acabando assim com as tropelias dos invasores, declararam guerra à Espanha e libertaram-se do jugo da sua coroa.

Parece-me, contudo, estranho que, após terem sofrido mais de quinhentos anos a tirania da Coroa Espanhola, os Povos da Hoje América Latina, comemorem, a 12 de Outubro, o dia da Hispanidade, como um dia festivo, no qual não se trabalha e é marcado com festas e danças. Na minha experiência, durante os anos em que vivi no Chile, sempre defendi que aquele era um país de mestiços. Mas, todos se sentem espanhóis e dizem que a cor da sua pele revela os seus ancestrais. Parece-me que o que dizem é verdade, por terem uma tez da cor do cobre ou pele escura. São poucos os casos de louros de olhos azuis que reclamam a Hispanidade!

Este ano, o 12 de Outubro, deve ser comemorado, não por causa da reclamada hispanidade, mas sim pelos mineiros soterrados a 700 metros debaixo da terra, numa mina de cobre que já tinha sido declarada perigosa. Ironias da vida: a mina tem por nome San José, o pai de Jesus. Foi no mês de Agosto deste ano de 2010, no dia 5, que os mineiros ficaram encurralados dentro da mina de cobre, nas cercanias da cidade de Coquimbo. As famílias dos mineiros, cristãs como são, encomendam os seus parentes às mais variadas santidades para que a terra que deslizou para dentro da mina, não os mate. São 33 mineiros que têm recebido todo o tipo de assistência, desde a alimentar até à psicológica, bem como os seus familiares que vivem no desespero. Desde médicos a sacerdotes e analistas, a solidariedade mundial tem-se manifestado de forma extraordinária. Desde Antofagasta, cidade a Norte de Coquimbo, chegou uma perfuradora T-130 para abrir a via por onde a cápsula Fénix resgatará, às entranhas, um a um os mineiros que nela se encontram há três meses e sete dias. Se acontecer, como se espera, os mineiros começam a ser retirados durante a noite de terça-feira 12, uma comemoração nacional que deveria trocar o dia da Hispanidade pelo dia dos mineiros, que no Chile são mal pagos e mal tratados. Estes de San José estão até com os salários em atraso, a empresa norte-americana que explora esta perigosa mina já foi demandada pelo Governo do Chile e pelos parentes dos mineiros que têm sofrido as penas do inferno, pior que as descritas por Dante, durante estes meses. Ironias da vida, o acampamento onde se encontra a mina, é denominado Esperanza, que tem um duplo significado: olhar sempre em frente e sempre estar calmo e sereno porque o desespero pode conduzir à morte. Houve um que queria suicidar-se, tentativa que acordou a solidariedade entre todos eles.

As famílias fazem vigílias, por turnos, de noite e de dia, Missas são celebradas e todos trazem a bandeira do Chile.

E mais nada digo. Os escravos dos espanhóis, passaram a ser escravos de uma empresa norte-americana, que assinara um contrato com o primeiro Presidente da República de ideologia liberal, e de ideologia de ultra direita, o primeiro após governos pacíficos de centro esquerda, desde 1989, quando o ditador do Chile foi declarado réu e faleceu aos 91 anos prestando contas à Corte de Apelo. Este é o Presidente que apoiava o ditador para ganhar dinheiro, como ele, que é um multimilionário…

Não deitemos foguetes antes da festa. Não sou homem de fé, mas sim de esperança e parece-me que vamos ter um dia dos mineiros como deve ser. Aja uma divindade que trate assim do assunto… e que o povo chileno, de curta memória, não volte a eleger Presidente da República um ditador disfarçado de Mandatário…

Faltam 74 metros, diz o diário La Nación. "Só 40 metros", lê-se depois no El Mercúrio. É a contagem decrescente para o fim da angústia. Ontem o Chile esteve à espera do rompimento, o momento em que as máquinas conseguissem alcançar o refúgio onde 33 mineiros estão soterrados há dois meses. Só na terça-feira será possível trazê-los à superfície, mas escavar aquele túnel de mais de 600 metros é a primeira vitória. No acampamento Esperanza os familiares trocaram o sono por uma vigília com 33 velas e cantaram o hino do Chile. E assim sejamos capazes de cantar o nosso hino nacional, escrito por Eusebio Lillo em 1818, música de Ramón Carnicer; desde o castelhano, que transfiro para português para facilitar a sua compreensão:

Puro, Chile, é teu céu azulado,
Puras brisas te cruzam também,
E teu campo de flores bordado,
É a cópia feliz do Éden.
Majestosa é a branca montanha
Que te deu por baluarte o Senhor
E esse mar que tranquilo te banha,
Te promete um futuro esplendor.

Refrão

Doce pátria, receba os votos
Com os que o Chile em teus altares jurou
Que ou será tumba dos livres,
Ou o asilo contra a opressão.
Como as dos mineiros, que todos os dias eles e as suas famílias, cantam no acampamento e eu, com eles…


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Notícias dos mineiros soterrados neste vídeo:

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