sábado, 30 de outubro de 2010

O FLiP8;, o dicionário Priberam online e o galego-português

Carlos Durão

Acedo com gosto ao amável convite do Estrolabio para fazer uma breve resenha de algo que nos honra a todos, nesta grande casa da Lusofonia. Trata-se da atualização do reconhecido programa FLiP, da empresa Priberam Informática, permitindo programas OpenOffice.

Para nós, galegos, é importantíssima esta oitava atualização, pois entre as variedades nacionais da língua que tradicionalmente lá figuravam: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Timor, hoje por primeira vez aparece a Galiza, até com a sua bandeira. Este é um facto (um feito, como dizemos acima da Raia) que nos orgulha a todos, e pelo que parabenizamos a Priberam Informática.

Talvez para alguns leitores seja isto novidoso, mas a consideração da língua galega como “variedade do português” (também “norma galega do português”), sempre afirmada pela filologia clássica e independente de nacionalismos, recebeu um revigorado impulso nos dous derradeiros anos, que são os que tem de vida a jovem Academia Galega da Língua Portuguesa: ela foi recebida de braços abertos pelas irmãs Academia de Ciências de Lisboa e Academia Brasileira de Letras. A sua Comissão de Lexicografia e Lexicologia forneceu um Léxico não exaustivo (1200 entradas aprox.) de palavras “tipicamente” galegas, de uso corrente, para se integrar no Vocabulário Ortográfico que pedia o Acordo Ortográfico, como também nos demais dicionários da Lusofonia.

E isso já está a acontecer: um exemplo é este FLiP8; também o dicionário Priberam online já começou a incorporar esse Léxico. Os leitores podem ali consultar duas típicas palavras galegas: “lôstrego” e “brêtema” (http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=lôstrego e http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=brêtema). Elas já figuravam, como exemplos de proparoxítonas com vogal tónica fechada, na Base XI, 2º a) do Acordo Ortográfico de 1990, de Lisboa, no que a Galiza participou, com uma delegação de observadores, nas sessões de trabalho (como antes no de 1986 no Rio).

A inclusão de léxico da Galiza no FLiP 8 é fruto, pois, do trabalho da CLL da AGLP, e do Protocolo de Cooperação assinado com a Priberam. Mas também do chamado reintegracionismo linguístico galego, ao longo de muitos anos e com os esforços de muitos “bons e generosos” (as palavras do nosso Hino) de ontem e de hoje, entre os que só mencionarei os saudosos Ernesto Guerra da Cal e Manuel Rodrigues Lapa. Bem hajam!

Está a amadurecer na Galiza a consciência de pertença ao tronco linguístico comum, da que procuram afastá-la obscuros poderes ao serviço do centralismo estatal espanhol. Para estes “o galego” está bem em estado de hibernação e como engraçado adorno folclórico; e para eles é intolerável que a Galiza assuma a sua língua como nacional e internacional, com todas as consequências: pois isso é o que está a acontecer hoje nas suas camadas mais novas. Já era hora!

(Carlos Durão, Londres, 27 agosto 2010)

(Algumas ligacões: http://aglp.net/index.php?option=com_content&task=view&id=117&Itemid=31

http://aglp.net/index.php?option=com_content&task=view&id=114 (Léx) e

http://aglp.net/images/stories/Documentos/lexico_aglp.pdf)


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