sábado, 30 de outubro de 2010

A cultura galega e o universo da lusofonia



No vídeo podemos ouvir um trecho de uma canção popular açoriana, que Adriano Correia de Oliveira tornou famosa, cantada pela lisboeta Raquel Tavares e pela galega, de Mós, Uxía Senlle – “Morte que mataste Lira”. Um belo mosaico lusófono. O espectáculo “Cantos da Maré”, onde este vídeo foi gravado, realizou-se em 19 de Dezembro de 2009 em Pontevedra. Uxía Senlle é uma cantora galega que mantém uma estreita relação com a cultura portuguesa. Numa entrevista dada ao «Portal Galego da Língua» -PORTAL GALEGO DA LÍNGUA ( http://www.pglingua.org/ )da AGAL - Associaçom Galega da Língua - produziu afirmações que testemunham uma profunda convicção na unidade entre as duas vertentes da língua. Salientam-se alguns aspectos relevantes dessa entrevista.

«É um grave erro estratégico não afirmar que galego e português são a mesma língua», disse Uxía que contou como nasceu o projecto “Cantos na Maré”: «Nasceu há seis anos. Sempre tivemos o sonho de organizar na Galiza, de sermos os anfitriões dos países da lusofonia, de trazê-los à nossa terra com todas as suas músicas. Pontevedra abriu-nos as portas à primeira edição».

«O que fazíamos era uma experiência, pois não sabíamos como ia sair, mas nessa primeira edição produziu uma conexão enorme entre o público e os que estávamos no palco. Achávamo-nos ante uma realidade tão certa e segura que tínhamos que continuar a avançar por esse caminho».

«Hoje a Galiza e a sua música está presente no Brasil, agora nasceu “Cantos na Maré” em rede, que é a possibilidade real de pensarmos num mercado da Lusofonia onde os agentes culturais estejam presentes. “Cantos na Maré” tem o sucesso da vontade e da paixão que pomos nas coisas. “Cantos na Maré” tem que ser itinerante, é um encontro de músicas e músicos galegos, mas não é só isso, é algo mais».

Falando depois na receptividade do projecto em Portugal, referiu que detecta no nosso país uma desconfiança a respeito da Galiza e dos galegos, supondo-se que os projectos de que Uxía falava fizesse parte de uma manobra de Espanha para absorver Portugal. «Em Portugal ainda não se entende bem qual é a situação da Galiza, e as relações que temos com Espanha. Mas estamos num momento excepcional das nossas relações e temos que avançar por aí».

E termina chamando a atenção para o número de falantes do português: «É um grave erro estratégico não afirmar que galego e português são a mesma língua. Há que fazer que vejamos as televisões portuguesas na Galiza para já. Temos a sorte de termos uma língua internacional com todas as vantagens das culturas internacionais com milhões de falantes e temos que aproveitá-lo, eu não entendo o erro dos políticos, o erro histórico de que essa nossa realidade linguística se agache, parece-me um erro gravíssimo. Na medida em que nos afirmemos pertencentes à lusofonia formaremos parte dum mundo vasto e riquíssimo no âmbito cultural, temos uma cultura tão rica e da qual somos o berço. Não podemos deixar que no-la apaguem».

«Esse medo que há em certos sectores de reconhecer que a Galiza tem a mesma língua que Portugal e agir na política cultural e linguística consequentemente na União Europeia não deveria fazer sentido, pois as vantagens desse facto não são só para nós, são para todos».

Estes sectores de que Uxía fala, referindo-se talvez mais às entidades políticas e culturais da Galiza, existem também aqui em Portugal onde parece haver um atávico receio de desagradar a Madrid. Recusar esta ponte de fraterna unidade cultural que galegos como Uxía nos estão estendendo, seria uma estupidez.

Estrolabio afirma a disposição de dar o seu modesto contributo para essa unidade. Estamos abertos à colaboração dos irmãos galegos.

1 comentário:

  1. Uxuia Senille e as sua opiniões: Se procurarmos estabelecer laços de proximidade, intelectuais e linguisticas, entre a Galiza e Portugal, através de organismos politicos oficiais não conseguiremos nada. Madrid não quer e Lisboa também não e nem sei mesmo se a Galiza política também quer. O princípio é fazer tudo à margem deles porque normalmente o que o povo quer não querem os políticos.

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