domingo, 24 de outubro de 2010

Orçamento - vamos ter convulsões sociais

Luis Moreira

E não me refiro às corporações organizadas que vão voltar a descer a avenida exigindo não se sabe bem o quê, exigem sempre, mesmo que os seus protegidos tenham um nível de vida muito acima dos restantes portugueses.

Refiro-me aos que não têm que comer, como pagar os medicamentos, a escola e o infantário, aos que vão imitar o que se está a passar em França. Chega cá sempre com uns meses de atraso, mas chega. É sempre em França que começa, é a primeira a lançar-se à água e gritar que não está fria, a seguir atiram-se os outros.

Reduzir os salários e aumentar os impostos é reduzir duas vezes o rendimento das famílias e, isso, lá para o meio de 2011, vai colocar muita gente em situação precária e não vai contribuir em nada para o crescimento da economia e para a melhoria da competitividade, embora se tente pela redução dos salários repor alguma competitividade esfrangalhada em anos anteriores por aumentos de salários muito superiores aos ganhos de produtividade.

O consumo privado e público vão contrair-se , o investimento vai descer, ficam as exportações e mesmo essas fortemente dependentes do comportamento das economias que nos compram. O desastre está montado, há muito que se desenhava este cenário mas os mensageiros de más notícias não são levados a sério, há sempre quem nos salve com uns subsídios.

Hoje falei com um amigo que explora um restaurante numa aldeia nos arredores de Santarém, as vendas já caíram 40%, fruto dos subsídios que terminaram e dos postos de trabalho que se perderam, as pessoas encolhem-se com medo do futuro o que não ajuda nada.

A verdade é que o empobrecimento atinge já camadas da classe média, as organizações de ajuda humanitária não têm mãos a medir, o número de pedidos de auxílio não cessa de aumentar mesmo entre gente qualificada. Jovens famílias com ambos os conjuges a trabalhar , atulhados até ao pescoço por empréstimos , recorrem à ajuda humanitária.

A seguir os jovens que não têm emprego atingem uma taxa de 25%, a geração dos 500 euros que, licenciados, aceitam os empregos que pertenceriam aos menos qualificados. É uma "pescadinha de rabo na boca" todos empobreceram, incluindo os menos jovens que cobravam bons vencimentos mas que a falência das empresas empurra para o desemprego definitivamente aos 50 anos.

Mas o parque automóvel não cessa de crescer como um dos mais luxuosos, indicando que o país é um dos mais desiguais e injustos da Europa.

2 comentários: