domingo, 10 de outubro de 2010

pequenas notas que podem ser úteis, no contexto da morte súbita em atletas

Adão Cruz*

Se um atleta ou candidato à prática desportiva tem história suspeita ou demonstrada de cardiopatia, deve ser observado por cardiologia.

Se não tem história de cardiopatia deve ser submetido a um primeiro exame de entrada.

Tipo de exame

-Exame médico individual, conduzido pelo médico assistente.

Vantagens:

Melhor conhecimento, por parte do médico pessoal, da história do atleta.

Boa relação médico-atleta, melhor comunicabilidade acerca de assuntos sensíveis como existência de patologias, problemas de desenvolvimento, uso de drogas etc.

Presença dos pais ou encarregados de educação na colheita da história familiar.

Melhor continuidade no seguimento.

Desvantagens:

Falta de interesse e de conhecimento, por parte de alguns prestadores de saúde.

Custo aumentado para o atleta.

Falta de interacção entre o médico e a escola.

-Exame médico em grupo, realizado na instituição e conduzido de maneira sistemática por pessoal de saúde (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas etc.), actuando em unidade.

Vantagens:

Mais baixo custo para o atleta.

Potencialmente mais alta taxa de detecção de problemas.

Maior consistência e eficiência do exame.

Desvantagens:

Perda de continuidade das observações e cuidados.

Falta de relação com o médico pessoal do atleta.

Menor conhecimento da história do atleta e da eventual doença.

Maior dificuldade na orientação dos cuidados e na profilaxia.

Exame cardiovascular

-Deve ser feito numa zona sossegada.

-Para além da inspecção, não só do tórax mas global, deve registar-se o peso, a estatura, a tensão arterial e o pulso.

-A auscultação cardíaca deve ser muito cuidada, no sentido de distinguir, dentro das capacidades do observador, sopros funcionais de sopros orgânicos.

No primeiro caso, na ausência de sintomatologia e de história pessoal ou familiar de doença, considera-se uma situação normal. Com história pessoal ou familiar de cardiopatia, deve ser observado por cardiologia.

No segundo caso, mesmo sem sintomatologia e sem história pessoal ou familiar de cardiopatia deve ser enviado a cardiologia. (Observação, Radiografia do tórax., Electrocardiograma, Eco-Doppler cardíaco, Ecg. de Holter, Prova de esforço etc., conforme o entendimento do especialista.).

Exemplo de questionário de rotina:

(com idade inferior a 35 anos)

1-Já passaram pelo menos dois anos desde a última observação médica, nomeadamente auscultação cardíaca e avaliação da tensão arterial?

Sim ( ) Não ( )

2-Alguma vez foi informado de que tinha "sopro no coração"?

Sim ( ) Não ( )

3-Desmaiou ou teve alguma dor torácica nos últimos dois anos?

Sim ( ) Não ( )

4-Algum dos seus familiares directos com idade inferior a 35 anos teve morte súbita?

Sim ( ) Não ( )

5-Algum médico detectou em familiares, doença de Marfan, ou "coração dilatado"?

Sim ( ) Não ( )

6-Já alguma vez usou anabolizantes ou cocaína?

Sim ( ) Não ( )

7-Alguma vez foi considerado inapto para a prática desportiva?

Sim ( ) Não ( )

(Com idade superior a 35 anos)

8-Fuma, tem antecedentes de hipertensão arterial, alterações das gorduras do sangue ou diabetes?

Sim ( ) Não ( )

9-Algum familiar (pais, avós, irmãos) padece de doença das coronárias (angina de peito, enfarte do miocárdio…) ou foi operado ao coração antes dos 65 anos?

Sim ( ) Não ( )

NOTA: Se alguma destas questões for afirmativa, o médico deve requerer a opinião de um cardiologista.

* Médico cardiologista


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(Ilustração de Adão Cruz)

3 comentários:

  1. Aqui está uma boa metáfora da convivência prodigiosa que consegues: o rigor científico aliado à perplexidade do artista. Porque aquele homem que jaz lá em cima, anónimo, sem cabeça, sem rosto, sem identidade, conta-nos, saibamos nós escutá-lo e entendê-lo, aquilo que a ciência não pode dizer sobre estes atletas, em quem ninguém viu ou não quis ver o risco de uma morte prematura. E assim o escrúpulo asséptico do questionário é perturbado, humanizado, pela presença de um corpo, fragmentado, incompleto, e solitário.

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  2. Que bonito Carla! Só tu poderias dar este sentido ao sentido que eu, consciente ou inconscientemente tentei delinear. Mais parabéns a ti do que a mim. Um beijinho, Carla.

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