…para a minha mulher, que edita os meus textos…
No entanto, essa rebelião foi mansa e serena. Tiveram que ser os intelectuais, maçons e liberais, que optaram por derrubar a família real, nesses anos da casa de Bragança, matar o rei Carlos I de Bragança e o príncipe da coroa, o herdeiro Dom Luís Filipe. Acontecimentos ocorridos no dia 1 de Fevereiro de 1908. Sem saber como, o filho mais novo, Dom Manuel, passou a ser rei, sem preparação nenhuma, como confessou ao Concelho de Estado solicitando orientações.
A bala matara duas cabeças coroadas: uma, já com coroa, a outra para depois, os corpos, levados para o Arsenal, foram embalsamados, como era costume nesses tempos. Lá estava o Infante Dom Afonso, irmão do Rei, a Rainha D. Amélia, e apareceu a Rainha-mãe, Maria Pia de Sabóia. A primeira, aos soluços, diz à segunda: mataram o meu filho enquanto a mais estóica, a Rainha-mãe, diz serena e calma: e a mim também. O regicídio foi um atentado dos membros da Carbonária: com uma precisão e um sangue frio mortais, o primeiro atirador, mais tarde identificado como Manuel Buíça, professor primário expulso do Exército, volta a disparar. O seu segundo tiro vara o ombro do rei, cujo corpo descai para a direita, ficando de costas para o lado esquerdo da carruagem. Aproveitando isto, surge a correr debaixo das arcadas um segundo regicida, Alfredo Costa, empregado do comércio e editor de obras de escândalo, que pondo o pé sobre o estribo da carruagem, se ergue à altura dos passageiros e dispara sobre o rei já tombado.
A 5 de Outubro de 1910, no porto da Ericeira, o que ficara da família real embarcou no iate D. Amélia IV rumo ao exílio na Grã-Bretanha, cuja monarquia tinha laços de parentesco com os Bragança.
Foi o fim da Monarquia em Portugal. Dom Manuel II não sabia governar e os intelectuais que implantaram a República, pensavam que apenas pelo facto de ser República o país, os 70% de analfabetos iam, por virtude da mudança, aprender a ler e a escrever, as mulheres iam poder votar e ser eleitas para cargos de representação popular.
O problema para Portugal começava a ser grave, como todo o mundo sabe. Abrir Registos Civis, impulsionar os agora cidadãos, e não súbditos, a casarem-se pela lei para se saber quem era quem; abrir clínicas; criar hospitais, não que os não houvesse, mas eram mal assistidos; a segurança social era inexistente tal como a poupança familiar. Os primeiros anos da República foram conturbados, até ao ponto de Sidónio Pais ser denominado o Presidente Rei. A minha informação dos livros da História de Portugal, diz: Sidónio Bernardino Cardoso da Silva Pais (Caminha, 1 de Maio de 1872 — Lisboa, 14 de Dezembro de 1918), militar e político que, entre outras funções, exerceu os cargos de deputado, de ministro do Fomento, de ministro das Finanças, de embaixador de Portugal em Berlim e de presidente da República Portuguesa.
Enquanto presidente da República, exerceu o cargo de forma ditatorial, suspendendo e alterando por decreto normas essenciais da Constituição Portuguesa de 1911, razão pela qual ficou conhecido como Presidente-Rei.
Os começos da República foram uma grande salada de avanços e recuos. A sorte foi que a Carbonária tinha fundado em 1853, a Voz do Operário, onde os mais novos estudavam e se preparavam para serem súbditos com trabalho que rende-se lucro. Até ao dia de hoje existe, no bairro de Alfama em Lisboa, uma organização que me orgulha por ter sido convidado a dar uma série de aulas para operários, nos anos 80 do Século passado. Eram à noite, eu tinha 38 anos, tinha mudado do conforto da Universidade de Cambridge pelo Instituto de Ciências da Fundação Gulbenkian, onde trabalhavam dois biólogos da família van Udem Bragança, e estava empenhado na criação de um novo estabelecimento de ensino superior, o que, felizmente, veio a acontecer, com o nascimento do ISCTE, esse prédio com dois corredores e duas Licenciaturas. Vejam o que é hoje!
Foi o que acontecera com a República Os seus inícios incertos, com eleições ou assaltos ao poder. Não foi o que Afonso Costa, que preparara a República com outros, sonhava. Eram intelectuais e governaram como tal. A Primeira República Portuguesa (também referida como República parlamentar) e cujo nome oficial era República Democrática Portuguesa, foi o sistema político que sucedeu ao Governo Provisório de Teófilo Braga. Instável devido a divergências internas entre os mesmos republicanos que originaram a revolução de 5 de Outubro de 1910, neste período ( 1910 a 1926) de 16 anos houve sete Parlamentos, oito Presidentes da República e 45 governos.
As fontes do meu texto, bem como da História de Portugal, passam pelos trabalhos de Miriam Halpern Pereira, sobre o liberalismo, pela História de Portugal de Alexandre Herculano (4 volumes, 1846-1853); História de Portugal de Pinheiro Chagas (8 volumes, 1869-1874); História de Portugal de Oliveira Martins (2 volumes, 1879); História de Portugal de Fortunato de Almeida (6 volumes, 1922-1929); História de Portugal de Damião Peres (10 volumes, 1928-1981); Dicionário de História de Portugal de Joel Serrão (6 volumes, 1963-1971); História de Portugal de A. H. de Oliveira Marques (2 Volumes, 1972-1974); História de Portugal de Joaquim Veríssimo Serrão (16 volumes, 1979-2007); História de Portugal de José Hermano Saraiva (6 volumes, 1983-1984); Nova História de Portugal de Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques (12 volumes, 1990-1992); e, especialmente: História de Portugal de José Mattoso (16 volumes, 1993-1995).
Mas, porque escrevo este texto sobre a História de Portugal e a implantação da República? É verdade que os que implantaram a República tiveram imensos problemas para esse traçar das linhas mestres do que viria a ser a República Democrática de Portugal, permitindo a fundação de outros partidos políticos, como o Socialista de estilo marxista, o Comunista, de corte Leninista, e a Social-democracia.
Para quê? Se hoje começam a baixar os ordenados da Função Pública, com cortes de 3.5% a 10% nos salários; hoje começam os despedimentos na Função Pública; o congelamento de todas as pensões; menos ajuda para exames, análises e medicamentos; fim do aumento extra de 25% no abono de família; redução das deduções e dos benefícios fiscais; aumento do Imposto do Valor Acrescentado ou IVA, para 23%; novo imposto para a banca e corte na verba para as Câmaras; a par da extinção de organismos e de cargos na administração pública. E tudo o que virá mais em frente. Até o 5 de Outubro. Bela comemoração do Centenário de República que tanto custara a organizar e que o 25 de Abril de 1974, salvara de uma eterna ditadura de 50 anos.
Eu sou socialista, voto pelos socialistas, mas estes, não serão Social-democratas liberais? É verdade o que Luís Couto Moreira diz num texto que comenta um ensaio meu: Mário Soares, já Presidente, meteu os projectos da esquerda numa gaveta e disse: isto fica para depois! Não vamos a correr como fez Allende.
Sou constituinte dos Socialistas, mas já não sei de quais. Os projectos revolucionários continuam na gaveta. Sangue suor e lágrimas é o que nos espera até 2013…Eu gritava: demita-se poder executivo! Mas, como não há alternativas e o Primeiro-Ministro tenta o seu melhor, calo a boca e continuo Socialista, de esses da gaveta de Soares…
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