sexta-feira, 12 de novembro de 2010

BPN

Carlos Mesquita

Oliveira e Costa está em liberdade, o processo é o mais estranho da história da justiça portuguesa, marcado pelo encobrimento, escondido em silêncio cúmplice. Há dezassete meses discutia-se em Portugal o vencimento do Ronaldo, o caso BPN estava em segundo plano, e eu escrevia este texto para o jornal onde colaboro. Note-se a discrepância entre os números que corriam e aquilo que é hoje sabido. O Estado, (o contribuinte) já entrou com 4.600 Milhões de euros para a fraude do BPN.

O título era. “A roubalheira no BPN dava para 30 Ronaldos”.

Dava, mas parece que já não dá; Vítor Constâncio disse ontem que a fraude no BPN, que envolve “figuras gradas do PSD”, não custa aos contribuintes portugueses 2.800 Milhões de euros (um terço do TGV) como se noticiava. Segundo o governador do Banco de Portugal a ladroagem já referenciada, que foi da política partidária e de altos cargos no Estado e nos governos, para o sistema financeiro, só vai conseguir roubar aos portugueses que pagam impostos, aí uns mil Milhões de euros; pouca coisa. Como a transferência do Ronaldo são 94 Milhões, dá apenas para 10 Ronaldos e mais ou menos meio Milhão de trocos.

(…)

Juntei estes dois acontecimentos para reflectir com os leitores este facto: porque será que em Portugal se discute fervorosamente o dinheiro que um espanhol deu a uns ingleses, e o ordenado dum emigrante que não sai do bolso de nenhum de nós, enquanto pelo menos dez vezes mais dinheiro, sai do sustento das nossas famílias, para uma dúzia de bandidos nacionais? Porque será que há dirigentes do PSD a fazer declarações sobre a moral do ordenado do Ronaldo, e recusam pronunciar-se sobre a roubalheira no BPN? E do BPP!

O caso BPN devia indignar toda a gente, e penso que tal não acontece porque não há a noção da dimensão da roubalheira, nem das ramificações políticas. Há, ao contrário, uma bateria de órgãos de informação, colunistas e partidos, comprometidos com a ideologia que criou as condições para os bancos serem assaltados por dentro; a desinformar para minimizar a fraude.

Como se pôde ver pelo inquérito parlamentar ao caso BPN, são aqueles que sempre defenderam a desregulamentação da actividade financeira, que acabaram por retirar proveitos eleitorais, atacando a supervisão que nunca quiseram, com o apoio duma esquerda que esqueceu a critica ao liberalismo, para lucrar uns votos tirados ao inimigo comum, o partido do governo. O governo esteve mal, ou nacionalizava a banca ou não nacionalizava os prejuízos da banca, mas quem roubou não foi o Banco de Portugal, foram os banqueiros, com a participação de todos aqueles que alegremente viam as suas poupanças aplicadas em títulos aumentar, sem que a actividade económica subisse na proporção. Foram a jogo e alguns arruinaram-se, as maiores empresas cotadas (PSI-20) perderam em 2008, 51% do seu valor; até o insigne professor de Economia e Finanças Cavaco Silva, que há anos avisava os portugueses para o perigo da bolsa, dizendo que se andava a comprar gato por lebre, deixou que os miaus levassem as suas poupanças, que andam, segundo ele, desaparecidas. Mas isso é secundário, é dinheiro de jogo e quando não se ganha é jogado fora; o pior é o dinheiro de quem não se habilitou a ganhar e perdeu na mesma, o dinheiro metido contra vontade, pelos contribuintes na roubalheira do BPN.

P.S.- Em 2003, Cavaco Silva mais a filha, conseguiram no meio da gataria apanhar uma grande lebre nas acções da SLN, cujo preço era fixado fora da bolsa. Renderam 140% (147,5 mil euros para Cavaco + 209,4 mil euros para a filha). Tinham como companhia uma sorte que anda desaparecida.





2009-06-16 Carlos Mesquita

4 comentários:

  1. Um assalto, não há outra opinião.A melhor maneira de roubar um banco é estar na sua administração.Também se passou no BCP e no BPP o que quer dizer que era o sistema de regulação que permitia estes golpes de mão.O único regulador digno desse nome, o Prof Abel Mateus, por enfrentar os bandos, foi corrido pelo governo.

    ResponderEliminar
  2. Está tudo dito. Só não vê quem não quer.
    Mesmo assim é preciso repeti-lo insistentemente
    e com a clareza deste texto.

    ResponderEliminar
  3. E esta menina Catarina Furtado deveria ter, ao menos, respeito pelo pai que tem e não fazer propaganda a este bando de ladrões.

    ResponderEliminar
  4. E, agora, o assalto é global.O que está a correr à frente dos nossos olhos é um assalto aos estados soberanos, sacam sem piedade os que prepararam esta situação. Os governos não mandam nada, tristes palhaços.

    ResponderEliminar